A Vida como Obra de Arte...
Em Humano, Demasiado Humano é notável sua crítica acerca da concepção tradicional de gênio e as implicações metafísicas na atividade artística. Tradicionalmente, o gênio foi elevado ao lugar que antes pertencia a Deus: o gênio é um ser iluminado, inspirado pelas musas e o próprio reflexo das ideias platônicas. O gênio, tal como o artista, seria um milagre da natureza, aquele que daria e enunciaria um caráter de inspiração em suas obras.
Pelo fruto da vaidade humana, esse ser "dotado" é colocado sempre em destaque, um exemplo do que nunca poderíamos ou poderemos ser. Aqui não haveria competição, mas sim contemplação, deleite. Para Nietzsche, nesse momento, o artista é um ser infantil, aquele que parou no tempo no momento de seu suposto impulso artístico. Agora o gênio seria fruto de um intenso e eloquente trabalho e não mais da inspiração divina. Entretanto, o enfoque que pretendemos dar é a relação com a obra de arte e de como ela "vem a surgir".
No parágrafo 174 de Humano, Demasiado Humano II intitulado "Contra a arte das obras de arte", Nietzsche retoma o caráter embelezador da arte, mas não exaltando de maneira positiva a inércia e a contemplação que vivemos diante de uma obra acabada. Haveria algo muito mais importante e a obra, somente um apêndice, seria a consequência, "o que restou", desse aspecto tratado a seguir: a vida como obra de arte.
O sentido da arte ultrapassa o conceito de obra. A arte vinculada à ideia de obra (o que foi materializado) é apenas um apêndice da arte de viver. Exalta, aqui, uma criação permanente e não um voltar-se ao "verdadeiro eu". A vida bela é aquela que nunca se acaba, uma história sempre em construção significante.
A obra de arte seria fruto do excedente da arte de viver, porém o que enxergamos é uma inversão: a obra é tomada como a verdadeira arte, e não a vida. Erroneamente pensamos que é a partir da obra que melhoraremos a vida, e não o contrário. "Tolos que somos!", diz Niezstche, pois perdemos o sentido da beleza e da arte.
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