domingo, 14 de junho de 2009

Pirro (Pírron) e Tímon


“Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres” de Diôgenes Laêrtios

- Pírron (Aproximadamente 360-270 a.C.)

(O filósofo grego Pírron de Élis foi o fundador do ceticismo)

- Conviveu com os ginosofistas na Índia, e com os magos. Tal convivência estimulou-lhe consideravelmente as convicções filosóficas e parece que o levou ao caminho mais nobre da filosofia, pois Pírron introduziu e adotou os princípios do agnosticismo e da suspensão do juízo.

- Pírron afirmava que nada é honroso ou vergonhoso, nada é justo ou injusto, e aplicava igualmente a todas as coisas o princípio de que nada existe realmente, sustentando que todos os atos humanos são determinados pelos hábitos e pelas convenções, pois cada coisa não é mais isto que aquilo.

- Pírron teve uma vida coerente com sua doutrina e foi louvado por sua indiferença e impassibilidade. Em situações onde muitos não conseguiam se manter calmos, Pírron sempre apontava para um exemplo de imperturbabilidade, associando esse comportamento ao de um sábio.

- Os ouvintes de Pírron eram chamados de pirronianos e subdividiam-se em aporéticos, céticos, eféticos e zetéticos, em decorrência dos “princípios” que defendiam.

* Chamam-se zetéticos os que buscam sempre e sobretudo a verdade.

* Céticos os que indagam e nunca chegam a uma conclusão.

* Os eféticos têm esse nome por causa do estado mental subseqüente à sua indagação, ou seja, a suspensão do juízo.

* Os aporéticos recebem tal nome porque não somente eles, mas os próprios filósofos dogmáticos estão frequentemente perplexos.

- Os céticos empenhavam-se constantemente em demolir todos os dogmas, e nunca se expressavam dogmaticamente. Limitavam-se a apresentar e a expor os dogmas dos outros sem jamais chegar a definições, não afirmando sequer que faziam qualquer definição.

- “Não mais uma coisa que outra” revela o estado espiritual de Pírron. Uma coisa não é mais existente do que inexistente.

- Um motivo para a suspensão e o não-dogmatismo (“doutrina pirroniana”) consiste na indicação dos fenômenos e de tudo que é conhecido de um modo qualquer pelo pensamento, e segundo ela todas as coisas se relacionam entre si e no confronto se revelam muito anômalas e confusas. Quanto às contradições, temos diversos modos em que as coisas manifestam força persuasiva: e sempre teremos considerações contrapostas a essas.

- As coisas fundamentais se nos mostrariam mutáveis em dez diferentes modos:

1º - Refere-se à diferença dos seres vivos quanto ao prazer e à dor, à desvantagem e à vantagem: as criaturas vivas não recebem as mesmas impressões dos mesmos objetos.

2º - Refere-se à natureza e às idiossincrasias dos homens.

3º - Decorre da diferença dos poros transmissores das sensações: segue-se daí que aquilo que aparece não é mais uma coisa que outra coisa diferente.

4º - Refere-se às disposições individuais e, em geral, às mutações de condições, como a saúde e a doença, o sono e a vigília, o prazer e a dor, a juventude e a velhice, a coragem e o medo, a carência e a abundância, o ódio e o amor, o calor e o frio, além da facilidade ou dificuldade da respiração: a dificuldade das impressões depende das condições diversas das disposições individuais.

5º - Relaciona-se com a educação, com as leis, com as crenças nas tradições míticas, com os pactos entre os povos e com as concepções dogmáticas: a conseqüência é a suspensão do juízo sobre a verdade.

6º - Relaciona-se com as misturas e uniões, em decorrência das quais nada aparece puro e em si e por si, mas misturado com o ar, com a luz, com a umidade, com a solidez, com o calor, com o frio, com o movimento, com as exalações ou sujeito a outras influências.

7º - Refere-se às distâncias e às diversas posições, aos lugares e às coisas que estão nos lugares. De acordo com este modo, as coisas que imaginamos grandes parecem pequenas, as quadradas parecem redondas, as coisas chatas parecem ter saliências, as retas parecem oblíquas, as pálidas parecem de outra cor. Logo, já que o conhecimento dessas coisas depende das relações de especo e de posição, não se pode conhecer sua natureza própria.

8º - Refere-se à quantidade e à qualidade das coisas, à multiplicidade de suas condições determinada pelo calor e pelo frio, pela velocidade e pela lentidão, pela ausência ou variedade de cores.

9º - Se relaciona com a freqüência, a raridade ou a estranheza dos fenômenos.

10º - Baseia-se na inter-relação, por exemplo, entre o leve e o pesado, entre o forte e o fraco, entre o maior e o menor, entre o alto e o baixo: aquilo que se acha à direita não está à direita por natureza, mas é percebido como tal segundo a posição relativa a outro objeto; mudada a posição, a coisa já não está à direita.

- Os céticos eliminavam toda demonstração e não admitiam um critério, um sinal, uma causa, nem o movimento, nem a instrução, nem o vir a ser, nem o princípio da existência de qualquer coisa boa ou má por natureza.

- Toda demonstração consiste em coisas demonstradas ou indemonstradas.

- Se as demonstrações isoladas não merecem fé, necessariamente as demonstrações gerais devem ser recusadas como destituídas de valor.

- Ou meios para julgar são os sentidos ou a razão, mas tanto eles como ela estão sujeitos a dúvidas.

-Os céticos suprimem também o critério da verdade: o homem está em desacordo seja consigo mesmo, seja com os outros, como se pode ver claramente graças à diversidade das leis e dos costumes; os sentidos enganam, a razão é discordante, a apresentação compreensiva é determinada pela mente e volta-se em várias direções. Não se pode então conhecer o critério; logo, não se pode também conhecer a verdade.

- A causa é algo relativo, e de fato é relativa ao efeito.

- Os céticos negam igualmente o vir a ser: o que não é substancial nem existente não pode tampouco ter possibilidade de vir a ser.

-Nem o bom nem o mal existem por natureza. Uma coisa pode ser boa e má ao mesmo tempo.

- O bem por natureza não pode ser conhecido.

- Os dogmáticos dizem que os céticos, de certa forma, também dogmatizam.

- As impressões diferentes possuem um valor de aparência.

- O fim supremo para os céticos é a suspensão do juízo, à qual se segue a imperturbabilidade como se fosse sua sombra.

- Tímon (Aproximadamente 320-230 a.C)

(foi discípulo de Pírron)

- As Sátiras abrangem três livros, nos quais Tímon, como cético, ataca e satiriza todos os filósofos dogmáticos em tom de paródia.

- Exerceu a profissão de sofista

- Contra os filósofos que admitiam a validade das sensações confirmadas pela razão, Tímon citava frequentemente o verso: “Atagás e Numênios se encontraram” (Nomes de dois ladrões famosos. Trata-se de um provérbio aplicável quando duas pessoas- ou coisas- de má fama estão juntas).

- Tímon não deixou sucessor algum.

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