quinta-feira, 11 de junho de 2009

ARTE E SOFRIMENTO


ARTE E SOFRIMENTO: A BELEZA DO EXISTIR

Segundo Nietzsche, a arte é uma forma de justificar a existência, fazendo com que a vida seja digna de ser vivida. Seu desenvolvimento está ligado à duplicidade do apolíneo e do dionisíaco, impulsos estes que estão diretamente ligados à natureza e não precisam, necessariamente, do homem como mediador.
Apolo está ligado às formas, ao cosmos e às linhas bem definidas, logo, tal é a sua contribuição para a arte: a harmonia, como num sonho contemplado e bem ordenado. Dionísio não. Ele é o espírito da embriaguez, e se manifesta numa arte não-imagética, na música. Dionísio é o eterno criador que perpassa, sob diversas formas, geração e destruição. Tal contribuição para a tragédia grega é inegável, pois esses dois impulsos artísticos se unirão na produção da cena trágica, vivenciando cenas que remetem ao sofrimento e, paradoxalmente, visam a potencialização e afirmação da vida acima de todas as coisas.
A tragédia, sob um primeiro olhar, poderia ser encarada como uma catarse das tragédias pessoais. Entretanto, para Nietzsche, ao presenciar a queda do herói trágico e sua reintegração ao uno primordial (o que chamamos de morte), tal cena produziria o efeito contrário: ao invés de sucumbirmos junto ao herói nós nos potencializaríamos. Tal "lógica" partiria da idéia de que somos aparências geradas pelo princípio de individuação (que nos deu uma forma), mas que voltaremos ao uno após a desintegração. Eis o movimento dionisíaco, que sustenta o conceito de eternidade, do eterno retorno. Tal movimento é incessante.
O impulso dionisíaco, através da música (coro trágico) nos faria sentir tal movimento em sua inteira beleza, sem um caráter pessimista. Nietzsche não nega a vida; a existência não precisa de nada que a negue; a existência é dor conjugada com prazer. A arte não está aí para negar a vontade, como em Schopenhauer, mas para afirmá-la. É a tarefa suprema e a atividade propriamente metafísica dessa vida; e diante de uma obra somos convidados a dizer: "A vida é bela!".

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