ÉTICA E POLÍTICA- Aristóteles
A política é a arte mais prestigiosas porque é ela que orienta a ética e as ciências práticas, possuindo um caráter teleológico. Segundo Aristóteles, o homem é um animal político, tem como fim a felicidade que, por sua vez, só pode ser alcançada no seio da comunidade. A política, arte da organização, analisará as relações principais entre os indivíduos da pólis e a busca do bem maior, pois o bem do todo (a comunidade) está acima do bem individual. A ética estuda os caminhos para uma vida boa, as virtudes e a sabedoria prática como uma espécie de preparação para os obstáculos da política. As ciências práticas e a ética, pois, visam preparar o cidadão para a grande arte, que é a política, e tem como principal campo o do contingente. Será preciso, então, o exercício e desenvolvimento de uma sabedoria para enfrentar as mais diversas possibilidades (que se apresentam nas mais variadas circunstâncias).
Um "bem em si mesmo" é algo que é buscado nele mesmo e que, quando o possuímos, estamos livres de qualquer carência, potencializando a vida por si só. Segundo Aristóteles (Ética a Nicômaco, I, 20): "Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim que desejamos por ele mesmo e tudo o mais é desejado no interesse desse fim; e se é verdade que nem toda coisa desejamos com vistas em outra (porque, então, o processo se repetiria ao infinito, e inútil e vão seria o nosso desejar), evidentemente tal fim será o bem, ou antes, o sumo bem".
Essa passagem esclarece a explicação anterior, pois explicita que todas as ações buscam, tendem a um bem. As artes que buscam esse bem, que pode ser identificado com a felicidade, e o buscam por si só, sem ter em vista algo exterior, são superiores. Aristóteles, assim, distingue ciências práticas, ciências teoréticas e arte (no sentido de techné com o objetivo de produção).
O fim do homem, o postulado ontológico do homem enquanto tal, é a realização de ações que buscam o bem supremo, segundo as virtudes e dirigido pela sabedoria prática. A comunidade é anterior ao indivíduo. Esse pressuposto nos leva à conclusão de que há um bem comum que todos desejam (a felicidade no seio da comunidade), porém para alcançar tal fim é preciso, antes, fundamentar o sentido da felicidade e estudar as virtudes humanas. Partiríamos do estudo do humano para fazer destacar o divino em nós: passando pela ética e pela política, viveríamos a vida mais bela e digna de ser vivida.
A virtude é a medida entre os extremos, o justo meio. A virtude é um hábito adquirido, caminho este orientado pela ética. Para Aristóteles conhece-se o bem praticando atos bons, nas mais diversas situações, e sempre procurando o meio termo, evitando, assim, a hybris (desmedida, excesso). É possível errar de muitas maneiras, mas acertar somente de um modo. A virtude é a busca desse caminho, realização da essência humana, evitando o que é "de mais" e o que é "de menos", pois estes trazem consequências negativas. O político (ou sábio e o perfeito cidadão) deve ser, sob esta perspectiva, uma espécie de equilibrista. Um ser moderado, prudente.
A práxis e a poiésis estão, ambas, relacionadas à vida activa do homem. A diferença entre ambas encontra-se no campo da reversão, previsão e o instrumento o qual utilizam para se realizarem. A poiésis está ligada a uma arte (techné), possuí um caráter de produção (pelo trabalho de quem realiza essa atividade) e é reversível, pois caso o produto final não seja o que idealizamos, é totalmente cabível sua destruição e uma posterior retomada da produção. A práxis (ação no sentido de ação política) está intimamente ligada à ess~encia humana, pois se dá através da palavra (logos), sendo imprevisível (não sabemos os rumos e consequências de nossas ações) e irreversível (não podemos desfazer ou invalidar nossas ações, no máximo podemos amenizar, através da promessa e do perdão, as suas consequências).
A práxis é o elemento capital das relações entre os indivíduos e é, assim, o objeto de estudo da política.
Bibliografia:
Ética a Nicômaco in: Metafísica: Livro 1 e 2; Ética a Nicômaco; Poética/ Aristóteles; seleção de testos de José Américo Motta Pessanha; [traduções de] Vincenzo Cocco...[et al.] - São Paulo: Abril Cultural, 1984. (Os Pensadores)
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