sábado, 5 de julho de 2008

Horóscopos e mais horóscopos...=)

Um dia desses, lá eu estava a conversar sobre as tramas da vida com uma amiga, aí começamos a falar sobre horóscopos...logo mais, uns dias depois, ela me trouxe alguns sobre mim e, sei lá, achei muito bacana. Por isso compartilho-os aqui! Brigadão Diva ;P.

Horóscopo das flores
NARCISO
Segundo a mitologia grega, embora amado pelas ninfas, o jovem Narciso era apaixonado pela própria beleza. Preso à sua imagem refletida num lago, o jovem foi transformado numa flor igualmente bela, considerada na Grécia como símbolo da primavera. Como não poderia deixar de ser, quem nasce sob o signo de Narciso carrega consigo a vaidade, qualidade importante na construção de sua imagem. Quando desabrocham para a vida, ficam em evidência e podem mostrar ao mundo suas principais virtudes. Ora pacientes, ora ousados, são capazes de alcançar o sucesso devido a sua perspicácia. O que lhe permite se sair bem nas mais diversas situações.

Horóscopo das árvores
SALGUEIRO
Ligado à lua e ao feminino. A beleza dos nativos de salgueiro vem de uma mistura inesperada de melancolia e sensualidade. Eles amam a natureza, são sociáveis e extrovertidos. Gostam de viajar, de descobrir novas idéias e influências. No amor, se expressam com romantismo, mas preferem não assumir compromissos rígidos.

Astrologia Asteca
Flor (Xochitl)
Em geral estes nativos têm sucesso. Amam a vida e sabem dominá-la com desenvoltura. A flor representa a sorte e a beleza. o senhor do signo é Xochiquetzal, deus da fortuna. Você é uma pessoa fascinante sob todos os aspectos, tem muita sorte no amor, é sociável e agradável. Seu otimismo contagiante torna-o sempre uma companhia desejada por todos que o conhecem. Tem charme, refinado bom gosto, o que faz de você, por exemplo, um excelente profissional no ramo das relações públicas. Mas, graças a seus dotes mais intuitivos do que racionais, você conseguirá sempre resultados excelentes nos seu empreendimentos, profissionais, artísticos e pessoais. Muito sincero no amor e nas amizades, você faz questão de viver num ambiente tranquilo e harmonioso. Demonstra afeição mais com gestos e atitudes do que com palavras, mas em troca exige também demonstrações de apreço e respeito. Sofre quando elas não são suficientes claras e concretas. Tem uma incomum capacidade de agradar; será apreciado pelo seu tato, pelas suas delicadezas que prodigaliza aos que o rodeiam. Educa os filhos de forma alegre e descontraída. Nos relacionamentos é uma pessoa alegre e jovial, elegante, capaz de entender muito bem seus demais e ajudar, quando necessário, de forma discreta.

Horóscopo Hindu
Kumbha
O nativo de Kumbha é a melhor amigo que uma pessoa pode ter. Alegre, comunicativo, simpático e fraternal, ele está sempre pronto a atender às solicitações das pessoas queridas. É regido por Sani, o poderoso filho do Sol que se transformou no planeta Saturno. Dele, o nativo de Kumbha herdou o forte senso de responsabilidade e firmeza de caráter. Amante da modernidade, ele aprecia tudo o que esteja relacionado à ciência e à tecnologia. Gosta de lidar com computadores e de dirigir carros velozes. Inteligente, aprende qualquer coisa em tempo recorde. Também é muito temperamental e não suporta ser contrariado. Mas suas zangas passam rapidamente. A versatilidade é uma das principais características do nativo desse signo. Ele é capaz de se adaptar a qualquer situação e sempre encontra as melhores saídas para os problemas do dia-a-dia, principalmente no setor profissional. Simpático e gracioso, cativa todos com sua sinceridade e seu jeito amável e solícito. Tem facilidade para se comunicar e adora lidar com o público. Interessado nas causas sociais, costuma organizar mutirões para beneficiar a comunidade.

Horóscopo Egípcio
Tuéris- a Deusa da Fertilidade
Os nativos que recebem influências da deusa Tuéris têm grande sensibilidade. Aparentam tranqüilidade e timidez. São super-intuitivas, têm fortes premonições e inspirações misteriosas. Os nativos são afetuosos, sinceros, compreensivos e justos. Quando exercem o lado negativo da personalidade são mentirosos, preguiçosos e agressivos. O filho de Tuéris, deve escolher bem as amizades para não se decepcionar mais tarde. Adoram brincar, imitar, criar. São divertidos, quando, bem humorados. Podem seguir as seguintes profissões: ator, médico, enfermeiro, professor e de economista. A vida afetiva é de altos e baixos, pois idealizam demais os parceiros. São sedutores e podem ter vários casamentos. A saúde dos nativos é delicada. Propensão a problemas na vesícula, males do estômago, problemas nos pés e na coluna. As crianças regidas pelo signo de Tuéris são tranqüilas de serem educadas. Na infância, precisam de afeto e atenção, para que, mais tarde, não fiquem complexadas.

Horóscopo Xamântico
Lobo
O lobo é gracioso, tem iniciativa, e ama a liberdade. Pessoas Lobo são geralmente muito confiáveis, generosas e com sentimentos profundos pelos seus amados. Seu objetivo máximo

é encontrar a cultivar o amor em suas vidas. A qualidade do Lobo é a compaixão, e por causa disso é uma pessoa sensível, intuitiva e muito criativa. Sempre pronto a acudir quem precisa

de ajuda, no fundo, o que o Lobo deseja é que respeitem seu espaço vital e sua liberdade de movimentos. É muito afetado pelos atos e palavras dos outros, e é com freqüência tímido.

É porém sincero, reflexivo e digno de confiança. No amor é carinhoso, romântico e possessivo.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Afrouxar a mão...


"Quando eu pensava que estava aprendendo a viver, eu realmente estava aprendendo a morrer."

(Leonardo Da Vinci)


Um bebê, ao nascer vem com as mãos cerradas e contraídas; ao morrer, o ser humano as têm abertas e relaxadas.
Não há maior aprendizado na vida do que afrouxar a nossa mão. É a vida que nos ensina, com suas difíceis lições, a relaxar. A dureza dos dramas cotidianos nos caleja e nos faz conhecer lentamente o jeito da morte. Esta talvez seja a razão pela qual o sonho humano de longetividade exagerada, ou até de imortalidade, seja um contra senso. Porque viver muito acaba nos ensinando a morrer.
Assim é como todo aprendizado, pois não há graduação que não seja um término, um fim.

Kant e um contraponto ao contrato de Hobbes


A "INSOCIÁVEL SOCIABILIDADE" E A RAZÃO PRÁTICO-MORAL

Immanuel Kant busca resgatar e reformular o conceito de razão prática (fundamentando-se sobre o dever) como base para a constituição do contrato originário.
A noção de "insociável sociabilidade" humana relaciona-se intimamente com o contrato, uma vez que o homem não é totalmente sociável e insociável (representando, assim, um contraponto entre Aristóteles e Hobbes). "O meio de que a natureza se serve para levar a cabo o desenvolvimento de todas as suas disposições é o antagonismo das mesmas na sociedade, na medida em que este se torna ultimamente causa de uma ordem legal dessas mesmas disposições". O homem busca a sociedade, mas deseja estar só e a natureza se serve dessa contradição porque "utiliza" as tendências "más" do homem para que ele realize o progresso, o desenvolvimento.
Kant parte da idéia de que se a natureza desejasse que o homem fosse feliz, ela entregaria tudo aos instintos e não nos conceberia uma razão. A natureza quer que o homem se mova e por isso o criou como ser de natureza e liberdade: com isso Kant diz que a razão é prática e que ela obedece a imperativos categóricos (que não calculam meios-fins), pois o próprio homem julga e se pergunta sobre os devidos fins. E também porque certos fins não devem ser alcançados.
Ao mesmo tempo que evita o convívio, o homem também busca a sociedade, impondo-se uma lei a si mesmo, sem necessidade de uma lei externa original. Existe uma razão, a priori, que determina o dever, que determina o que o homem deve fazer diante de variadas situações e, juntamente com a "insociável sociabilidade", pode ser considerada o "motor da história".

Para Kant, o homem não é totalmente sociável, muito menos insociável.
Estamos diante de mais um dualismo humano.

A essência do Estado para Hobbes

O LEVIATÃ

Para Thomas Hobbes a essência do Estado pode ser assim definida: "Uma pessoa cujos atos uma grande multidão mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum".
O Estado (Civitas) nasce por decorrência de um contrato e este, por sua vez, significa uma transferência mútua de direitos. Antes de comentar tal definição de Estado, é preciso imaginar o que era a vida do homem antes das sociedades organizadas. Os homens nascem livres e iguais e devido a essa igualdade (quanto às faculdades do corpo e do espírito) deriva-se uma "igualdade quanto à esperança de atingirmos nossos fins". Muitas vezes, desejando os mesmos fins, os homens se tornam inimigos, o que constituiria uma "guerra de todos contra todos": o estado de natureza, onde imperam os acordos momentâneos e a lei do mais forte, com o constante temor de uma morte violenta, além de uma vida miserável.
A razão, sendo uma faculdade humana por excelência, sugere maneiras do homem atingir uma vida boa, e satisfatória, e daí desdobram-se as leis de natureza (lex naturalis), pois sair daquela condição miserável é um desejo do homem. A primeira lei diz para o homem buscar a paz e segui-la, mas para que ele faça a guerra se necessário, relacionando-se aqui com o direito de natureza (jus naturale) fundamental, que é a vida e, portanto, podemos usar de todos os meios para preservá-la.
A passagem para o Estado Civil se dá, efetivamente, pela segunda lei, onde há uma transferência mútua de direitos e o homem abre mão de sua total liberdade, contentando-se com a liberdade dos outros homens, que é a sua própria. Aqui "o homem recria-se a si próprio, porém em formato grande". O Leviatã, esse "monstro" e "homem artificial", concede ao homem uma tranqüilidade a longo prazo (a paz), em contraste ao estado de insegurança, e permite o convívio entre os homens, mediante uma razão instrumental (calculadora de meios-fins). Esse "Deus Mortal" é dirigido por um soberano, tendo como fim a preservação da vida dos seus súditos.
A terceira lei efetiva esse pacto social: uma vez celebrado o pacto, não podemos desfazê-lo. Não é vantajoso (e não é desejado) que o homem volte ao seu estado natural, pois não há desenvolvimento, muito menos posses. Além disso, o Estado possuí um "monopólio da violência", podendo punir aqueles que tentarem fugir ao contrato de "todos os homens entre si".
Eis o Estado, fundado principalmente nas três primeiras leis de natureza, e onde o homem não mais é o lobo do outro homem e sim onde "o lobo se curva ao Leviatã".

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Thomas Hobbes V - Um furo???


Ora Hobbes, tu dizes que o contrato social é um "contrato de todos entre si", ou seja, dos "indivíduos entre si" e não um "contrato entre o soberano e seus súditos"...ora, se os homens viviam isolados, não buscavam os outros e eram, fundamentalmente, inimigos entre si, fica a seguinte pergunta:

Como os indivíduos estabeleceram o contrato se não havia convivência?

Será que não existe um resquício de moralidade na 2ª lei de natureza?
Será que a razão humana é totalmente calculadora?

Thomas Hobbes IV - O Leviatã e a razão instrumental


POR QUE SE DEU O CONTRATO?

"Por que se deu o contrato?", podemos nos perguntar. Para Hobbes isso aconteceu porque possuímos uma razão instrumental (diz ela "é melhor mudar, pois o que vem de encontro é a morte"). Ele excluí qualquer justificativa moral e exalta uma racionalidade estratégica, pois estamos visando os fins e, por isso, nos "modelamos" aos meios. O Estado (Civitas) é um homem artificial que, ao mesmo tempo que garante a paz, desperta medo, pois possuí o "monopólio da violência" e sua decisão é incontestável.
"O fim último, causa final e desígnio dos homens (que amam naturalmente a liberdade e o domínio sobre os outros), ao introduzir aquela restrição sobre si mesmos sob a qual os vemos viver nos Estados, é o cuidado com sua própria conservação e com uma vida mais satisfeita. Quer dizer, o desejo de sair daquela mísera condição de guerra que é a conseqüência necessária das paixões naturais dos homens, quando não há um poder visível capaz de os manter em respeito, forçando-os, por medo do castigo, ao cumprimento de seus pactos e ao respeito àquelas leis de natureza".

O portador dessa pessoa (Leviatã) é o soberano e todos os outros são os súditos.
O Estado é um Deus Mortal abaixo do Deus Imortal.

Seria o Estado um terror no lugar de outro?

Thomas Hobbes III - As 3 leis de natureza


AS TRÊS PRIMEIRAS LEIS DE NATUREZA E O CONTRATO SOCIAL

A razão, por sua vez, vai sugerir maneiras adequadas para o convívio, aliadas a algumas paixões que impulsionam os homens na busca de uma vida confortável, ou para a fuga daquela condição miserável que é o estado de natureza. Entretanto, como se deu a passagem do estado de guerra e desconfiança para o Estado Civil? Pelo que parece, pela imposição de limites, através de um contrato que, em poucas palavras, significa uma transferência mútua de direitos para um Estado Civil, que garantiria a paz e a vida longa. E esse Estado é o Leviatã: o homem, imitando Deus, recria-se a si mesmo em formato grande.
Para Hobbes, o contrato social (bem como o Estado Civil) deriva das leis de natureza (lex naturalis), principalmente das três primeiras, mas antes ele conjuga a jus naturale com a lex naturalis: "o direito (jus) consiste na liberdade de fazer ou omitir, ao passo que a lei (lex) determina ou obriga a uma dessas duas coisas" Sendo um preceito ou regra geral da razão, a primeira lei determina "que todo homem deve esforçar-se pela paz, na medida qie tenha esperança de consegui-la, e caso não a consiga pode procurar e usar todas as ajudas e vantagens da guerra". A segunda parte dessa lei relaciona-se com o direito de natureza: "por todos os meios que pudermos, defendermo-nos a nós mesmos", pois o jus naturale fundamental é a vida.
Com a segunda lei o homem sai, efetivamente, do estado de pura natureza, pois ele renuncia aos seus direitos ilimitados, contentando-se com a liberdade dos outros homens e com a sua própria que é permitida. Daí desdobra-se a "regra de ouro" (ou lei de todos os homens) de Hobbes (inspirado no evangelho, mas proclamada inversamente): "Quod tibi fieri non vis, alteri ne feceris". Não faças aos outros o que não queres que façam pra ti. Na segunda lei há uma transferência mútua de direitos e o homem deve contentar-se com a máxima liberdade possível (que não é a liberdade absoluta), mas recebe um bem em troca: a tranqüilidade. A paz é contratual. A terceira lei diz que uma vez celebrado o pacto nós não podemos voltar atrás, caso contrário ele seria feito em vão.

Não há como voltar atrás

Thomas Hobbes II - O estado de natureza

ou "A vida miserável do homem antes da sociedade"

Hobbes esboçou o que seria a vida do homem antes das sociedades organizadas tomando como base que a natureza fez os homens iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, onde cada indivíduo teria todos os direitos para conservar sua vida. Esse "direito de natureza (jus naturale) é a liberdade que cada homem possuí de usar seu próprio poder, da maneira que quizer, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida; e conseqüentemente de fazer tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim". Como o homem é racional, ele projeta fins e devido à igualdade natural de, os fins, muitas vezes, são os mesmos segundo o desejo de muitos homens, o que faz com que eles se tornem inimigos já que é impossível que a mesma coisa seja gozada por ambos. O "estado de natureza" é um estado de guerra permanente, representando a vida antes de um poder instituído e, portanto, está inserido nessa "guerra de todos os homens contra todos os homens", onde "o homem é o lobo do homem". A condição do homem em tal estado, conseqüentemente, era miserável e sua vida era solitária, sórdida, embrutecida e curta, não existindo indústria, ciências, letras e muito menos arte. Entretanto o pior, e constante, temor era o perigo de morte violenta.
Na natureza humana, segundo Hobbes, encontramos três causas principais de discórdia: a competição, a desconfiança e a glória. "A primeira leva os homens a atacar os outros tendo em vista o lucro; a segunda, a segurança; e a terceira, a reputação". O homem, no estado de natureza, não pode trabalhar, cultivar o espírito e não busca a compainha do outro: quando se pensa que se pode fazer algo de bom ou construir algo, vem alguém e destrói tudo. A desconfiança impera juntamente com os acordos momentâneos. A busca pelos mesmos fins resulta num choque natural e nada é injusto, pois não há lei (somente a lei do mais forte). Se cada homem preservar seu direito a todas as coisas, o que se pode esperar é a morte violenta.

Thomas Hobbes I - Uma visão sobre o filósofo


Thomas Hobbes de Malmesbury sempre manteve como uma de suas principais preocupações a situação social e política da sua Inglaterra natal. Seu livro Leviatã é fruto destas preocupações, definindo esse "monstro" (de nome inspirado na Bíblia - Jacó, 40, 20) como um homem artificial, embora de maior estatura e força do que o homem natural, para cuja proteção e defesa foi projetado. Este "homem artificial" teria por objetivo garantir a paz entre os homens naturais, cujos interesses particulares fariam com que sua convivência, num estado de natureza, fosse uma constante "guerra de todos contra todos".
A concepção política moderna surgiu acerca da dúvida se a comunidade era anterior ao indivíduo (na ordem ontológica) e se a justificação da política baseada em valores transcedentes, como a concepção antiga de bem, ainda eram viáveis. A Modernidade foi marcada pela ruptura com a noção do poder de origem divina e com a pluralização do conceito de bem, sendo testemunhada por alguns filósofos que tentaram elaborar uma justificativa para a nova ordem. E Thomas Hobbes foi um dos que trataram sobre a questão da legitimidade do poder político, inaugurando uma corrente de pensamento que ficou conhecida como Contratualismo, que por sua vez foi desenvolvida por Hobbes tomando como base o indivíduo, onde ele afirma que "os homens nascem livres e iguais". Daí surge uma questão: "como conceber uma ordem social e uma forma de organização coletiva que estejam fundadas sobre os indivíduos e os valores fundamentais de igualdade e liberdade?".

A igualdade dos homens

(Leviatã -Capítulo XIII)

"A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades de corpo e do espírito que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa também aspirar, tal como ele. Porque quanto à força corporal o mais fraco tem força suficientemente para matar o mais forte, quer por secreta maquinação, quer aliando-se com outros que se encontrem ameaçados pelo mesmo perigo".

(Thomas Hobbes de Malmesbury)

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Sócrates, ou o bom cidadão...

Xenofonte destaca no capítulo VI dos “Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates” um certo dia em que Sócrates teve uma conversa com o sofista Antifão. Antifão veio certo de que com sua argumentação conseguiria roubar os discípulos de Sócrates. O filósofo, incrivelmente, rebate os argumentos de Antifão, se mostrando, mais do que nunca, um homem virtuoso, ao contrário daqueles que se vendem para os que possuem dinheiro e não se comprometem com a virtude.

Antifão usa do argumento de que Sócrates se alimenta dos tipos de alimentos mais grosseiros, bebe as bebidas mais baratas, veste-se com a mesma roupa tanto no verão quanto no inverno e não tem calçados. Antifão diz que nem um escravo desejaria viver sob tal senhor, pois Sócrates seria, caso os seus discípulos buscassem ser semelhantes a ele, um professor de miséria. Aqui ele confessa sua decepção, pois pensava que aqueles que professavam a filosofia eram mais felizes.

Sócrates, por sua vez, se lamenta da triste idéia que Antifão possuí. O filósofo diz que não é obrigado a falar com quem não queira, ao contrário do sofista que o faz por uma questão de renda. Sócrates diz não precisar das comidas e das bebidas mais nobres, pois já se alimenta e bebe com prazer, diz também que treinou o seu corpo para suportar o frio, o calor e o chão da pólis, pois ele não precisa buscar um abrigo por causa do frio, não busca uma sombra num dia quente e não é impedido de ir e vir por ter os pés machucados. Certos exercícios transformam as pessoas inicialmente fracas em fortes, mais do que aqueles que já nasceram fortes e que, porém, relaxaram. Sócrates diz sofrer as mazelas melhor do que Antifão, pois, não sendo escravo do ventre, do sono, da volúpia, Sócrtaes diz conhecer prazeres mais doces que não deleitam somente no momento, porque seus prazeres são contínuos.

Sócrates, falando sobre esses prazeres contínuos, pergunta para seu adversário se a felicidade da concepção sofista se iguala ao seu conceito de felicidade, que seria uma esperança de nos tornarmos melhores a nós próprios e aos nossos amigos. “Se for preciso servir os amigos, ou à patria, quem para tanto terá mais lazer, aquele que vive como eu ou aquele que esposa o gênero que te vanglorias?”. Para Sócrates, Antifão colocava a felicidade nas delícias e no luxo. Porém, na concepção do filósofo, de nada necessita a divindade e quanto menos necessidade tivermos, mais nos aproximamos do deus, nos tornando, assim, mais próximos da perfeição.

Um homem sensato busca ser amigo dos amantes da virtude, ao contrário dos prostituídos (ou sofistas), que traficam a sabedoria para quem possa pagar. Sócrates, quando reconhecia um bom caráter, ensinava ao outro tudo o que sabia e se tornava seu amigo, e por isso cumpria os deveres do bom cidadão. Seu mestre, para Xenofonte, era um homem feliz que fazia virtuosos os que o escutavam: Sócrates preferia dedicar-se a tornar grande o número de indivíduos capazes de exercer os direitos de cidadão, ao invés de buscar a própria perfeição. A imagem de Sócrates como bom cidadão é exaltada.

No capítulo VII, Sócrates afirma que “não há mais belo caminho para a glória que um homem de bem ser o que realmente deseja parecer”. Mas existem perigos. Alguém poderia passar por um bom flautista sem o ser de fato, fazendo uso de todos os instrumentos e máscaras para parecer ser o que não é. Porém esse indivíduo jamais poderia tocar flauta na presença de outros, pois encenaria algo ridículo. Da mesma forma poderia acontecer com algum piloto e algum general que se fizessem passar por um “bom piloto” e um “bom general”. Eles seriam felizes sabendo que não são aquilo que parecem ser? Convencendo, ou não convencendo, os outros acerca de serem “bons” nas funções que desempenham, eles seriam menos infelizes? No final das contas, quando necessitassem pôr em prática seus conhecimentos, suas técnicas e suas táticas eles sucumbiriam cobertos de desprezo e vergonha.

Diante do perigo de um homem tentar parecer mais forte, mais corajoso e mais inteligente do que é, Sócrates dizia aos seus discípulos que quando um homem que apenas parece ser capaz de fazer algo recebe algum cargo e não sabe executar sua função, este não tem direito ao perdão, pois não é merecedor de tal. “Insigne embusteiro chamava àquele que se apodera do dinheiro ou o que quer que lhe tenham confiado, mas embusteiro maior ainda o homem sem valor que empreende convencer os outros de ser capaz de dirigir o Estado”. Xenofonte, fazendo a apologia de seu mestre, admira-se como Sócrates afastava seus discípulos do charlatanismo.