sexta-feira, 27 de junho de 2008

Um Ser de Ação e Pensamento

Reflexões acerca de "A Condição Humana"

"Todas as atividades humanas são condicionadas pelo fato de que os homens vivem juntos, mas a ação é a única que não pode sequer ser imaginada fora da sociedade dos homens"
(Hanna Arendt)

A afirmação de Hannah Arendt diz respeito às três atividades humanas fundamentais: labor, trabalho e ação. Essas atividades constituem a chamada "vita activa", sendo que nenhum homem pode libertar-se totalmente dela, e são condicionadas pelo fato de que os homens vivem juntos. Cada atividade humana corresponde a uma condição humana e a ação, compreendida como a mais nobre, é a que obrigatoriamente se exerce entre os homens, ou seja, não podemos pensar em uma ação isolada.
É prudente definir essas atividades (e suas respectivas condições), pois elas são básicas na "vita activa". O labor está vinculado ao desenvolvimento biológico do homem (naturalismo radical) e tem como condição humana a vida. No labor o homem retira da natureza tudo que é necessário e é tratado aqui como um animal laborans: ele está lançado num ciclo incessante de "labuta, consumo e regeneração", ciclo este que diz respeito à vida enquanto tal.
O trabalho é a atividade com a qual o homem se relaciona e transforma a natureza, representando um artificialismo. Um mundo de coisas (objetos de uso) é criado entre o homem produtor, fabricador (homo faber) e a natureza, construindo a morada do corpo ao contrário dos bens de consumo ("produtos" do labor). Essa reificação (transfornar a matéria em material) tem como condição humana a mundanidade, pois estamos na Terra e sem mundo não há trabalho. Durabilidade e objetividade: são as características da poiésis (obra), que "fica no mundo, enquando se vai seu criador" e que também pode denunciar a futilidade humana.
A ação (práxis), mais nobre atividade humana é uma espécie de via para a "vita contemplativa" (theoría), é a que não pode sequer ser imaginada fora da sociedade dos homens, pois tem como condição humana a pluralidade. O homem não é um, e sim muitos. A ação humana não necessita da matéria, e nem das coisas, como via e sim de um veículo imaterial: a palavra, esse pensamento articulado que, ao mesmo tempo, torna o homem forte e o torna fraco, dependente e vulnerável.
A ação se exerce diretamente entre os homens, é o exercício das virtudes, a busca do bem e da felicidade e nos mostra a relação íntima entre theoría e práxis (teoria e prática): o agir com sabedoria. A ação é imprevisível e irreversível, fazendo com que o grande sonho humano seja encontrar uma techné (inteligência produtora do trabalho) da práxis. E assim está lançado o animal "socialis" (ou zoon politikon) entre os homens, visando sua perfeição e o bem comum através da ação, que jamais existe no isolamento, muito mais que as outras atividades humanas fundamentais.

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