segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

René Descartes e a prova ontológica de um Deus-razão não enganador



Terceira Meditação
Deus existe, garante o cogito e a nossa potencialidade; e acima de tudo não é enganador: o ponto fixo que nos possibilita conhecer o mundo

As terceira substância de Descartes: "Provar a existência de Deus é provar que as idéias claras e distintas são verdadeiras"; é garantir o res cogitans (substância pensante) e o res extensa (substância corpórea)

Deus. "Uma substância perfeita, infinita, eterna, imutável, independente, onisciente, onipotente e pela qual eu próprio e todas as coisas que são (se é verdade que as coisas existem) foram criadas e produzidas": assim o concebemos em qualidades e assim diz Descartes em sua terceira meditação, após chegar à conclusão que Deus existe. Ao longo da segunda parte dessa meditação, Descartes se empenhará em provar essa existência, apoiando-se no princípio de causalidade, no qual "é coisa manifesta pela razão natural que deve haver ao menos tanta realidade na causa eficiente e total quanto no seu efeito": pois de onde é que o efeito pode tirar sua realidade senão de sua causa? E como poderia esta causa lhe comunicar se não a tivesse em si mesma?".
Eu, como substância pensante e finita, não poderia criar a idéia de um ser perfeito e infinito, pois essas vantagens são muito grandes e importantes, o que nos faz aceitar, baseando-se que do finito não pode criar-se o infinito, que Deus existe; e que mesmo eu sendo uma substância, não teria essa idéia de uma substância infinita se ela não tivesse sido colocada em mim por uma substância que fosse, de fato, infinita.
A argumentação que se segue explicita que existe mais realidade na substância infinita do que na substância finita, pois a noção de infinito é anterior à do finito, ou seja, de Deus antes de mim mesmo. Somos levados a nos perguntar, nesse ponto, se seria possível, sem os atributos de Deus, conhecermos as necessidades de nossa própria natureza. As idéias de que "me falta algo" e de que "não sou totalmente perfeito" remetem à idéia de um ser mais perfeito que o meu. E mesmo que finjamos que um tal ser não existe, não podemos finjir que não nos represente nada de real. Eis uma idéia bastante clara, real, verdadeira e que é, mesmo que eu não compreenda inteiramente o infinito, a mais distinta dentre todas as que se encontram em meu espírito.
Descartes diz que posso ser algo mais do que imagino ser e que todas as perfeições de Deus estejam de algum modo em mim, mas "adormecidas": o meu conhecimento, a cada dia, se aperfeiçoa pouco a pouco (podendo se ampliar ao caminho do infinito), mas, mesmo que tenha esse potencial, não posso comparar isso, de maneira alguma, com a idéia que tenho da divindade.
"Na divindade nada se encontra em potência, mas tudo é atualmente e efetivamente". A própria idéia de "imperfeição de meu conhecimento" se dá ao notar esse crescimento do mesmo, onde ele nunca poderá ser infinito, embora esteja sempre aumentando. Deus não poderia ter sido criado por nós, porque o ser objetivo de uma idéia não pode ser produzido por um ser que existe apenas potencialmente: sua idéia é dotada de um tão alto grau de perfeição, que não podemos acrescentar e tirar nada dela. Porém caímos em nossas velhas opiniões ao relaxar e olhar para as coisas sensíveis...
Por isso, "desejo passar adiante e averiguar se eu mesmo, que possuo essa idéia de Deus, poderia existir, no caso de não haver Deus". De onde me originaria, então? De mim mesmo? De meus pais? Ou de alguma causa menos perfeita do que Deus? Se eu fosse autor de meu ser, se eu fosse independente, com certeza não duvidaria de nada, não sentiria mais desejos e, enfim, não me faltaria perfeição alguma; eu seria, assim, o próprio Deus. E cabe pensar, também, acerca disso: as coisas que nos faltam talvez não sejam mais difíceis daquelas que já possuímos. "Foi muito mais difícil que eu, uma substância pensante, tenha surgido do nada do que seria conseguir as luzes e os conhecimentos de muitas coisas que desconheço, e que são meros acidentes dessa substância". Se eu tivesse sido o meu próprio autor, não me teria privado desses conhecimentos e também das coisas que estão compreendidas na idéia de Deus (que possuem algum grau de perfeição).
Não posso negar que Deus seja o criador de minha vida, mesmo se concebo que talvez eu tenha sido sempre como sou agora: pois todo o tempo de minha existência pode ser dividido em uma infinidade de partes (independentes uma das outras); porém do fato de eu ter sido pouco antes não decorre que eu deva ser agora, exceto se neste momento alguma causa me produza e me crie novamente, em todos os instantes, ou seja, que me preserve. É preciso do mesmo poder e da mesma ação para que sejamos preservados nos instantes de nossa duração; daquele poder necessário para nos criar e produzir caso não existíssemos. Preservação e criação não são coisas diferentes. Nós é que damos nomes diferentes. Será que este poder está em mim? Interrogando a mim mesmo chego à conclusão que não. Não possuo essa virtude de fazer de tal maneira que eu, que sou agora, seja ainda no futuro. Se eu tivesse tal poder, eu teria conhecimento dele, eu poderia pensá-lo. Reconheço, então, que dependo de algum ser distinto de minha substância.
Será que eu poderia ter sido produzido não por Deus e sim por meus pais ou causas menos perfeitas? Para Descartes, isso não pode ser assim. "Porque, como já afirmei antes, é bastante evidente que deve existir ao menos tanta realidade na causa quanto em seu efeito. E, então, por eu ser uma coisa pensante e possuir em mim alguma idéia de Deus, qualquer que seja a causa que se atribua à minha natureza, é preciso confessar que ela deve ser de igual maneira uma coisa pensante e possuir em si a idéia de todas as perfeições que atribuo à natureza divina". Se examinarmos essa causa e chegarmos à conclusão de que ela possuí sua origem e sua existência a partir de si mesma, então, ela própria deve ser Deus: portanto se é e existe por si, ela também possuí todas as perfeições cujas idéias concebe, ou seja, todas aquelas que eu concebo existentes em Deus. Se ela tira sua existência de alguma outra causa diferente de si, prosseguiremos em uma cadeia de causas até que, pouco a pouco, se chegue a uma causa última, que é Deus. Deus é a única idéia que eu posso dar o salto da essência para a existência. Se ele é perfeito, então participa da existência. Se não o é, então não é a causa última e, assim, partiremos em busca dela, que, no final, se comprovará ser o próprio Deus, que nos criou e, atualmente, nos preserva.
Cabe ressaltar que não podemos supor que somos produtos de várias causas juntas, das quais receberíamos separadamente as idéias dos atributos de Deus, pois a unidade, a simplicidade e a inseparabilidade de todas as coisas que existem em Deus é uma das principais perfeições que concebo haver nele. Essa própria idéia de unidade foi posta em mim pela mesma causa da qual eu recebi as idéias de todas as outras perfeições. Porque ela não mais pode ter feito compreender juntas e inseparáveis, sem fazer ao mesmo tempo com que eu soubesse o que elas eram e que as conhecesse a todas de alguma maneira".
No que diz respeito aos meus pais, aos quais devo o meu nascimento (mesmo havendo dúvidas acerca disso), não posso concluir que sejam eles que me mantêm, nem que tenham me feito e produzido enquanto coisa pensante, pois meu espírito se encontra encerrado. "Pelo simples fato de que eu existo e de que a idéia de um ser perfeito, ou seja, Deus, é em mim, a existência de Deus está muito claramente provada".
Como adquiri essa idéia? Não recebi a idéia de Deus através dos sentidos e ela jamais se ofereceu a mim contra a minha expectativa, como o fazem as idéias das coisas sensíveis. Não é pura produção ou ficção de meu espírito, pois não tenho o poder, como dito antes, de acrescentá-la ou diminuí-la. Consequentemente, não restou outra opção: de igual maneira à idéia de mim mesmo (Dubito, ergo cogito, ergo sum), ela nasceu e foi produzida comigo desde o instante em que fui criado.
Deus, ao me criar, colocou em mim esta idéia para ser como a marca impressa em sua obra; e não é também preciso que essa marca seja algo diferente da própria obra. Daí Descartes deduz que é acreditável que Ele tenha nos feito à Sua imagem e semelhança; e que eu conceba essa semelhança pela mesma faculdade pela qual concebo o cogito, o que me faz refletir sobre minhas imperfeições diante de um ser tão perfeito; mas, ao mesmo tempo, aspiro ininterruptamente a algo melhor e maior do que sou e vejo que possuo os atributos divinos potencialmente; porém vejo que Deus os possuí de fato, atual e infinitamente . Deus é uma idéia evidente, assim como o cogito: já salta aos olhos como verdadeira, não precisa de uma demonstração (embora Descartes a tenha feito aqui) e é marcada pela clareza e pela distinção.
"E toda a força do argumento de que aqui me servi para demonstrar a existência de Deus consiste em que reconheço que seria impossível que minha natureza fosse tal como é, isto é, que eu tivesse em mim a idéia de um Deus, se Deus não existisse de fato; esse mesmo Deus do qual existe uma idéia em mim, ou seja, que possuí todas essas altas perfeições de que nosso espírito pode imaginar, sem, contudo, compreendê-las a todas, que não é sujeito a necessidade alguma e que nada possuí de todas as coisas que indicam alguma imperfeição".
Logo, ele não pode ser enganador, pois a razão nos ensina que o embuste depende de alguma necessidade e como Deus é perfeito, não necessita de coisa alguma.
Nos deliciemos, então, com a maior felicidade de que tenhamos o poder de sentir nesta existência, segundo Descartes, e que a fé nos ensina que será a ventura da outra vida: essa contemplação da magnificência divina, que será superior à qualquer meditação.

domingo, 14 de dezembro de 2008

1 ano de blog!!!

Faz um ano que essa idéia foi colocada em prática...
Parabéns pelas idéias realizadas!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Política educacional brasileira


Política educacional brasileira: economia, cultura e reprodução da sociedade

Bárbara Freitag evidencia o papel fundamental e direcionador da economia no sistema educacional brasileiro ao longo da história. Sob as influências do mercado, a educação torna-se umas das instituições que assegurarão a reprodução da cultura e das estruturas de classe, bem como as relações de dominação que daí decorrem, como, por exemplo, a ideologia dominante, que é passada de aula em aula. A análise de Freitag tenta nos explicar o predomínio de certas classes em determinados ramos de ensino. Se esse cenário é muito mais diversificado nos dias atuais, pelo menos a análise deixa claro esse movimento ao longo da história educacional brasileira.

Através de uma periodização que leva em conta as políticas econômicas, a educação possuiu, nesse enquadramento, três momentos: o primeiro momento abrange o Período Colonial, o Império e a I República e corresponde ao modelo econômico de agroexportação (1500-1930); o segundo corresponde ao modelo de substituição das importações (1930-1960); e o terceiro (que não será abordado no trabalho) corresponde ao período da internacionalização do mercado interno (1960 até os dias atuais). Estamos diante de modelos econômicos divergentes que se traduzirão em papéis diferentes desempenhados pelas instituições educacionais, cada um com suas prioridades. Entretanto o que é alertado é a situação da classe subalterna que, mesmo com uma aparente melhora devido à flexibilidade causada pelas novas leis, não mudou muito, uma vez que se encontra lançada num jogo onde os interesses de várias classes entram no cenário. É necessário, então, lembrar que o critério para se identificar uma classe é o econômico. A economia, por sua vez, especifica a formação social como um todo, o que nos revela importante a sua contextualização, mesmo que breve, para que se entenda a questão educacional brasileira. Outras questões que podemos colocar: a educação está a serviço da economia? Ou ela aspira a algo maior?

O primeiro momento foi caracterizado pela pouca importância da educação: a monocultura latifundiária não exigia uma formação, aliás, se exigisse ela seria mínima, por isso uma política educacional gerenciada pelo Estado não existia. A Igreja, pelas escolas de jesuítas, se encarregava de reproduzir a ideologia que, por um lado, já era assegurada pelas relações de produção. A independência política trouxe uma necessidade para a formação de quadros dirigentes e o resultado foi o surgimento de escolas militares, de nível superior. Com a República, a política educacional estatal (muito embrionária) começa a se desenvolver, tomando, assim, o espaço que antes era da Igreja.

O segundo momento é caracterizado pelo modelo de substituição das importações, medida tomada após a grande depressão de 1929 onde grandes mudanças estruturais aconteceram. Um novo grupo ascende na pirâmide social: a burguesia urbano-industrial; e com essa nova organização os aparelhos repressivos do Estado são reorganizados. A educação será uma delas, pois desde a época das escolas de jesuítas, ela era vista como uma "arma pacífica". Ao longo desse período mudanças são implantadas, como a obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário, a contingência do ensino religioso, a introdução do ensino profissionalizante. A Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) só será sancionada em 1961, após um longo processo de reconciliação entre duas propostas que proclamavam diferentes interesses: a proposta de seu primeiro projeto-de-lei encaminhado pelo então Ministro da Educação Clemente Mariani e o "substitutivo Lacerda" encaminhado pelo Deputado Carlos Lacerda. Respectivamente, as principais reivindicações eram: a equivalência e flexibilidade entre ensino médio tradicional e técnico; e a educação como instituição privada, financiada, mas sem a intervenção estatal. O resultado englobará as duas tendências, mas as nobres camadas da sociedade ainda desfrutarão das melhores condições. Entretanto, na teoria, mesmo que "ilusório" na prática, é dada uma chance aos subalternos para uma ascensão social. É aqui que entram os paradoxos que antecedem e que são posteriores a essa lei.

Podemos denominar a educação, com suas funções de reprodução da cultura e das estruturas de classe, como um veículo de ascensão, mas ao mesmo tempo como uma "arma pacífica", uma maneira de apaziguar a classe menos privilegiada no sistema econômico vigente. Classe essa que, ao longo da história, registrou altos índices de evasão das escolas, seja por questões domésticas, de transporte ou relativas ao material didático. A grande polêmica se instaura junto ao ensino profissionalizante, pois visava, com esse tipo de ensino, os "filhos dos operários": a busca por um exército de trabalho (semi-qualificado) é , então deflagrada. O ensino "para as massas" parecia trazer inúmeras vantagens para os futuros profissionais, mas não contribuía para o ingresso no vestibular, já que os alunos dessa rede, em sua maioria, trabalhavam durante o dia para pagarem seus cursos (estudando, assim, de noite), ou seja, pagavam com suas energias. Além disso, esses cursos eram introdutórios na medida em que não correspondiam ao nível que enunciavam: poderiam ser vistos como simples cursos propedêuticos, um curso barato no qual o diploma rápido era a grande meta, um diploma sem muito valor.

Enquanto isso, as escolas de elite e o ensino propedêutico diurno (com um ensino de qualidade superior, que garantia grandes chances de se passar no rigoroso vestibular) eram os alvos das camadas econômicas superiores. Configura-se, assim, o cenário que reproduzirá a força de trabalho e uma sociedade de classes. O ensino superior das renomadas universidades (principalmente os cursos tradicionais como direito, medicina e engenharia) continuará nas mãos da elite e que, por sua vez, fará parte, novamente, dos quadros dirigentes do nosso país.

A LDB reflete as tensões do longo período em que é elaborada: tentando atender as classes subalternas (pela equivalência e flexibilidade entre os cursos tradicionais e técnicos) e também a elite (assegurando o setor privado na educação). Ambos, Estado e iniciativa privada, podem ministrar cursos no Brasil. E essa "simples" lei se desdobrará em vários outros paradoxos em nossa sociedade ao longo dos anos.

Bibliografia:

Freitag, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade- 4. ed. rev.- São Paulo: Moraes, 1980. (Coleção educação universitária)

domingo, 7 de dezembro de 2008

Anatomia das paixões

Um mergulho no homem...

pelos portais de nossas paixões,

pela exuberância
dos nossos sentidos,

e temos na ciência
mais do que uma seca lógica...

Ganhamos arte...

E na arte,
mais que a razão do belo...

Uma sensível ciência...

e ambas,

arte e ciência,

trazem o seu criador

num todo-saber que desafia
suas acadêmias...

Renascendo
um homem único...

Indivisível...

Inviolável...

Um homem imortal...

E posto que homem

em todas as línguas,

por todas as lógicas...

é Homem no
entendimento
universal...

O sistema auditivo humano é apresentado dentro de perspectivas anatômicas, cognitivas e artísticas. O público é convidado a assistir a um show com a banda Os Temporais, no entanto, se depara com um show bizarro...Ambientada em teatro improvisado no salão principal da Casa da Ciência, a banda é formada por músicos "mortos", representados pelos trabalhos esculturais dotados de interferências artísticas em torno dos ossos que compõem o sistema da audição humano e que fazem parte do acervo anatômico da UFRJ. Além disso, permeando o material expositivo, a música emerge dos instrumentistas simbolicamente representados. Na riqueza da metáfora cenográfica aqui vivenciada, a audição se estabelece como um dos portais da paixão humana. (Créditos: Profª Maira Fróes)

Os Cantos de Maldoror (passagem)

"Pois bem, que assim seja! Que minha guerra contra o homem se eternize, já que cada um de nós reconhece no outro sua própria degradação... já que somos ambos inimigos mortais. Quer deva eu conseguir uma vitória desastrosa ou sucumbir, o combate será belo; eu, sozinho contra a humanidade".

Lautréamont, "Os Cantos de Maldoror".

Milhares...


Milhares de pensamentos atravessavam-me nesse momento que não conseguiria enumerá-los aqui. Tenho somente a certeza de que resultavam em algo bom, pois o coração batia em completa harmonia nesse segundo.
Um instante. Uma foto. Um clique. Até me senti o criador de toda a beleza desse mundo.
A fotografia é, junto da filosofia, uma das maiores genialidades desse mundo, pois pode nos trazer tamanho sentimento, que até perdemos palavras na hora de nos expressar. Mas, cá entre nós, acho que não precisamos falar nada num momento desses. Só que na vastidão desse horizonte reconheço que vim sozinho e que da mesma forma partirei. É belo. E doloroso.
É melhor assim.

Daquilo que eu sei (Ivan Lins)

Daquilo que eu sei
(Ivan Lins)


Daquilo que eu sei
Nem tudo me deu clareza
Nem tudo foi permitido
Nem tudo me deu certeza...

Daquilo que eu sei
Nem tudo foi proibido
Nem tudo me foi possível
Nem tudo foi concebido...

Não fechei os olhos
Não tapei os ouvidos
Cheirei, toquei, provei
Ah Eu!
Usei todos os sentidos
Só não lavei as mãos
E é por isso que eu me sinto
Cada vez mais limpo!
Cada vez mais limpo!
Cada vez mais limpo!

sábado, 6 de dezembro de 2008

Filosofia da Ciência (continuação 3)

(Idealismo Discursivo- continuação 3)

"Havia em mim tantos aspectos que não eram meus e que perturbavam a consistência lógica de minha essência! Ao afastá-los de mim, eu me reconstituo"

"São raros os momentos em que o cogito distinto se esclarece numa conquista objetiva; são como a consciência de um nascimento". Esse funcionamento não é imediato e ficamos à espera de "instantes criadores". Por isso a meditação deve começar com um esforço lento, num cogito negativo onde, assim, seriam evidenciados os laços essenciais. "O espírito vê-se assim melhor no limite de si mesmo". Para Bachelard, essa ciência pedagógica fortaleceria uma cultura intelectual, pois estaríamos refazendo o erro em nós mesmos para perceber o papel de um conhecimento, sua importância. Estaríamos entendendo a importância de algo através de sua própria perda, uma dialética ontológica, como no exemplo proposto por Bachelard: "o que seria a consciência de uma força moral sem a lembrança da tentação?". Essa dialética poderia ser aplicada nos mais diversos campos.
A compreensão se dá na oscilação do ser e do não-ser: a clareza de entendimento do ser acontece quando ele toma consciência de seu aniquilamento. É um instante de renascimento, de reconhecimento, onde o ser vibra com toda a sua força. O conhecimento é construído a partir de ilusões que o sujeito perde. "O sujeito, ao meditar o objeto, elimina não só os traços irregulares no objeto, mas atitudes em seu próprio comportamento intelectual": "o ser está em luta constante contra suas aparências". Aliás, para Bachelard, no momento em que compreendemos essa noção de aparência, nós somos, ao mesmo tempo, vítimas e vencedores. Isso tudo é fonte de uma intuição nova, que já não é mais a cartesiana.
Não há sujeito puro e não há objeto dado, ambos se constituem ao longo do processo de objetivação. O sujeito é aquela razão que permeia a discussão (um diálogo onde não há precisão); ele surge da polêmica. Ambos, sujeito e objeto, são perdidos e reconquistados. "Não há tensão sem prévio descanso". Há com certeza, em Bachelard, uma preocupação com o método: estamos numa constante luta contra as aparências, mas essa luta jamais terá um fim, a promessa é a de um inacabamento.
"Pensar-se como ser é abjurar seus erros. Logo, só conseguirei me descrever como sou se disser o que não quero ser. (...) Só aparecerei com clareza a mim mesmo como a soma de minhas renúncias. (...) É pela comparação de nossas renúncias que temos chances de sermos parecidos uns com os outros (...). De fato, só somos originais por nossos erros. Somos seres de fato apenas pela redenção". Tal redenção, para Bachelard é o "vôo vertical", que é criação. O pensamento, então, teria a dupla confirmação de sua realidade: subjetiva e objetiva. Não sabemos, porém, como criar esses instantes em nós e ficamos à espera dessa síntese...
Gaston Bachelard conclui que o esforço metafísico para perceber o ser em nós mesmos é uma perspectiva de renúncias. Para se chegar ao sujeito puro devemos perder nossas ilusões.

"Sou o limite de minhas ilusões perdidas"

Filosofia da Ciência (continuação 2)

(Gaston Bachelard, de Asger Jorn, 1960)

(Idealismo Discursivo- continuação 2)

"Eu estava enganado em relação às coisas. Logo não sou aquele que julgava ser"


Bachelard defende o dinâmico em relação ao estático. O conhecimento é sempre uma tentativa de dizer o que é, mas não conseguimos fazer isso completamente. "O idealismo imediato falha ao apresentar um sujeito originalmente costituído e a idéia como um absoluto que se pode destacar pela análise". A idéia é sempre solidária de correlações, como dito anteriormente. A partir de um conhecimento imediato e primeiro, nós podemos constituir o conhecimento, mas nunca poderemos falar totalmente o que é esse real. Não é o real que será conhecido e sim a realização. O objeto é realizado, ou seja, ele passa por um processo de objetivação. E é esse processo que, afinal, nós conhecemos. A idéia, para Bachelard, corresponde a uma modificação espiritual, uma transformação do ser que procede por eliminação: "Em toda consquista há um sacrifício", diz.
Assim, a grande pergunta a René Descartes é lançada: "Será possível meditar no abstrato sobre o sentido metafísico da retificação? Será possível destacar uma forma metafísica da deformação espiritual, da retificação em si, afastando toda referência ao objeto retificado?" (Lembramos, então, que Descartes diz que nós conhecemos a substância pensante independentemente do objeto exterior ao sujeito. Essa concepção, para Bachelard, é o obstáculo a ser superado). Como pode Descartes basear todo o conhecimento num princípio que se dá num instante? O erro de Descartes foi que ele quis perpetuar esse instante do cogito.
"O sujeito entendido como fator de retificação, quando põe em dúvida a vontade anterior e vê a irrealidade da realidade primeira, se reconhece como contemporâneo do segundo tempo do ser, um acréscimo de ser": através de retificações, o sujeito constrói a si próprio e também o objeto. O sujeito só toma consciência de si (só se vê como "estrutura") no processo de objetivação. O idealismo de Bachelard começa com lentidão e dor. Ficar na horizontalidade é continuar no mesmo, é não ter um momento de criação; busquemos, então, a verticalidade! "O sujeito toma assim consciência de sua força de recolhimento, de sua verdadeira solidão, de sua retração possível, de sua independência para com o dado e, consequentemente, da gratuidade do dado. Tudo o que primitivamente era dado talvez precise ser retomado, mas, pelo menos, agora, entre o dado e o recebido, há um intervalo, um tempo de reflexão e a orgulhosa atitude de recusa". O cogito cartesiano só se dá porque Descartes se retificou e sempre que enunciamos o célebre "Penso, logo existo", ele é acolhido como verdadeiro. Só que ele se dá no instante. Será que não poderíamos esclarecer o cogito na perda do próprio cogito, como proposto por Bachelard? Não será melhor refazer a retificação em nós mesmos para sentirmos o verdadeiro sentido de uma idéia?
A idéia simples não existe. Toda idéia primeira já é complexa, pois é razão e experiência (introduzimos coordenadas experimentais), da mesma forma que o processo dinâmico da objetivação oscila entre sujeito e objeto, tomando toda a alma. O apodíctico tem que se instaurar a partir do assertórico: ele não pode se impor; ele tem que partir também de experiências e retificações. A própria razão se nega, a ciência sofre abalos nos quais a história de objetividade de uma idéia ultrapassará a história de objetividade de outra idéia, e assim por diante. Se a idéia possuí uma historicidade, ela já não é simples. Para Descartes, só há ciência quando partimos de idéias simples para depois deduzirmos o resto.
"O que nos enriquece quando retificamos nossas primeiras ilusões, quando deixamos o reino das aparências, talvez seja apenas um domínio deserto e indeterminado. Mas a servidão empírica foi abolida. O espírito experimenta sua independência em relação à experiência. Quando tomo consciência de meu erro objetivo, tomo consciência de minha liberdade de orientação. (...) Eu estava enganado em relação às coisas. Logo não sou aquele que julgava ser. (...) Mas, uma vez corrigido, esse erro objetivo fornece o plano de uma construção íntima que interessa ao próprio sujeito. Ao viver a retificação objetiva do conhecimento, o sujeito tem a revelação de sua própria força e da possibilidade de um devir espiritual". Não apreendemos isso tudo numa intuição (impulsiva) como disse Descartes: o conhecimento é reflexivo, ele vai por etapas; "pensa destruindo"; refletir é pegar o conhecimento anterior e retificar, juntando isso tudo à lembrança das estagnações passadas. Um erro é, assim, reconhecido; e então o cogito se distingue. Ele não se confirma por si, funcionando no vazio.
"A meditação metafísica deve começar com paciência, com longa disciplina, a esclarecer o ser na perda do ser, numa espécie de cogito negativo, num pensamento que se abstrai, num pensamento que se recusa, que insiste em diminuir".

sábado, 29 de novembro de 2008

Filosofia da Ciência (continuação)

(Continuação- Idealismo Discursivo)

"A verdade é sempre resultado de uma polêmica"

A verdade é sempre resultado de uma polêmica e o erro contribui para se conquistar o saber. Para Bachelard, o ser é o ser desiludido. Instala-se na dúvida como num método: o espírito ama duvidar. No racionalismo bachelardiano é preciso partir do erro e ter má vontade com os dados imediatos o que, com um espírito contraditório, nos possibilitaria sair de nosso próprio sistema. Poderíamos, é claro, viver isolados cultuando uma razão subjetiva, mas queremos perturbar a calmaria do senso comum: "E- novo paradoxo- é desse esforço para impor uma idéia original que nasce no homem a razão universal! É o detalhe que dita a lei; a exceção torna-se regra; o sentido oculto é o sentido claro!".
As noções primeiras são obstáculos epistemológicos, ou seja, obstáculos que aparecem dentro do próprio conhecimento e quando derrubamos essas noções, passamos por um "despertar intelectual" que é fonte de uma intuição nova (diferente da cartesiana), marcada pela racionalidade e pela polêmica; tendo como motor "o doce amargor de uma ilusão perdida". É uma construção constante da verdade: a razão é sempre inacabada, ela é dinâmica e não se sustenta com uma verdade primeira. No campo do conhecimento científico temos, para Bachelard, uma oposição entre razão e intuição, onde as verdades analíticas (apodícticas) pouco a pouco substituiriam as verdades empíricas (assertóricas); o próprio "eu" se daria por enganos (constitui-se assim o ortopsiquismo). O cogito não pode ser fundamento de nada, pois se dá somente num instante. E o instante é um acontecimento entre dois nadas.
O futuro é um vazio, mas interfere "na plenitude de nossas impressões presentes". Entretanto as impressões presentes não podem ser absolutas. Os motivos para nos tornarmos dinâmicos abalam os motivos para permanecermos estáticos. Eis que surge o idealismo discursivo. Um começo difícil, passando por todas as dificuldades, o inacabamento tornando-se uma promessa e consciente de suas próprias fraquezas. Esse é o idealismo de Bachelard: o sujeito elimina os traços irregulares no objeto e em si próprio, se desloca do seu pensamento, se vê refletindo, possuí consciência de todas as retificações e "a vida objetiva ocupa toda a alma". São reconstruções diferentes na essência. Quando o sujeito se percebe com clareza e distinção é porque se retificou inteiramente. "A alma vibra num pensamento feliz quando encontra ressonâncias e simpatias no mundo objetivo".

Filosofia da Ciência


Idealismo Discursivo
Gaston Bachelard

"Ciência é uma ruptura com a ciência anterior"

Gaston Bachelard em "Idealismo Discursivo" traz ao debate o embrião de questões posteriormente tratadas em sua obra "diurna", a epistemológica, onde estuda a ciência de sua época frente aos abalos decorrentes das rupturas e reestruturações de suas bases, bem como defende um racionalismo aberto (solidário de correlações). Nesse ponto, sua crítica ao racionalismo e idealismo cartesianos se torna marcante.
A problemática é a de que "nenhuma idéia isolada traz em si a marca de sua objetividade", pois vê-se a importância da junção com uma história psicológica, que, por sua vez, indicaria como essa idéia chegou à objetividade. Não podemos partir de experiências baseadas somente em uma visão subjetiva ou objetiva (essa é a grande questão), pois não existe uma delimitação precisa entre sujeito e objeto. Em outras palavras, não há sujeito isolado e muito menos objeto isolado. É preciso entrar nesse processo de objetivação: construir o objeto a cada momento. A intuição cartesiana que nos oferece a certeza do cogito falharia nesse aspecto, pois, para Bachelard, reconhecer-se como sujeito puro e distinto seria tão difícil quanto isolar centros absolutos de objetivação. A objetivação é uma "objetivação sempre em perigo". Um indício primeiro não apontaria o caminho da objetivação, ou seja, nenhuma contemplação nos oferece uma idéia de imediato. É preciso algo a mais, pois a própria subjetividade é perturbada.
Pensar alguma coisa é fundamental para se pensar como alguém. Para Bachelard, é preciso afastar o erro e instaurar uma verdade nova, mas ter consciência do que é esse erro: um critério de verdade objetiva estabeleceria um critério de crença íntima. Portanto, a reflexão em cima da substância pensante, o cogito, deu a idéia clara e distinta a Descartes. O caminho foi uma reflexão e não uma intuição. O esforço de construção possibilita afirmar o cogito em um dado momento. Descartes pensa que o cogito é uma intuição, só que esquece que fez uma reflexão em cima do próprio cogito para afirmá-lo. Quando surge uma dúvida nós perdemos tudo novamente: a subjetividade (nós) e a objetividade (o mundo). Defende aqui o não uso de pólos absolutos na reconquista da consciência e da verdade objetiva, pois se o erro é aquilo que foi verdade um dia, a aproximação (ao invés da absolutização) revela-se como o caminho preferível. Descartes quer chegar a uma verdade absoluta: isso não é possível, pois a verdade é provisória (é um produto histórico) e a própria idéia possuí seu valor de acordo com o lugar que ocupa.
Bachelard busca definir como a subjetividade e a objetividade são "entidades" entrelaçadas por excelência, o que faria com que a observação de uma experiência tomada somente por um ponto de vista objetivo ou subjetivo se tornasse inútil; não apreenderíamos seu verdadeiro significado. Uma base sólida e uma verdade primeira (dadas pela intuição cartesiana) não garantem, necessariamente, a segurança sobre o processo de uma experiência. Negando um idealismo e realismo separados e defendendo uma correlação entre eles, Bachelard diz que precisamos oscilar entre objetivação e subjetivação, entre sujeito e objeto. Tão importante quanto pensar é ver a si próprio pensando, não sendo necessário dar "pulos" como no idealismo cartesiano.
Surge então uma das idéias centrais na epistemologia de Bachelard: a positividade do erro. A objetividade (sempre em perigo) precisa ser perdida para que sintamos o seu sentido, para que tentemos estabelecer correlações, trabalhando sob uma apercepção, ou seja, perceber que estamos percebendo. "A objetividade de uma idéia será tão mais clara, tão mais distinta quanto mais surgir de um fundo de erros profundos e diversos": o erro medirá esse critério de distinção, que é diferente do critério de clareza. Para Descartes, a idéia clara era também distinta e, assim, apreenderíamos a "intimidade" da idéia de uma vez por todas, como num "golpe" ou "salto". É impossível formular verdades objetivas pela intuição, defenderia o Bachelard "diurno".
É preciso polemizar o que já foi feito para depois instaurar uma novidade: "uma verdade só tem todo o seu sentido depois de uma polêmica". Isso é possível quando uma idéia objetiva é recolocada na "auréola das ilusões imediatas" e quando erramos, pois esses se mostram como caminhos importantes para se chegar a uma conclusão. Bachelard diz que devemos ir de encontro ao ponto para polemizar e que "não existe verdade primeira. Só existem erros primeiros". Aqui fica claro que o erro desempenha um papel fundamental: ele torna a experiência mais rica e quanto mais complexo ele for, melhor. Na filosofia anterior, a idéia de objetivação era pronta e acabada. Em Bachelard, a objetivação é um produto da reflexão, um produto do espírito e não uma contemplação. "A experiência é precisamente a lembrança dos erros retificados" e psicologicamente eliminados. A pureza se dá ao sairmos do engano.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Idealismo Discursivo - Gaston Bachelard


Nota de Georges Canguilhem.

Estudos/ Gaston Bachelard; apresentação Georges Canguilhem; tradução Estela dos Santos Abreu.- Rio de Janeiro: Contraponto, 2008. pg 9.

"Idealismo Discursivo dá a impressão de ter sido escrito no intuito de preparar as mentes para receber a lição do novo espírito científico. A série posterior de trabalhos espistemológicos ainda não está aí pré-formada, mas não trará nenhum desmentido, nenhum arrependimento. "É preciso divagar para chegar ao objetivo (...). Não existe verdade primeira. Só existem erros primeiros". Por enquanto estamos diante de uma filosofia oscilante, que vai do sujeito ao objeto e vice-versa. Mas já se anuncia a constituição do sujeito pela construção do objeto. O sujeito só é constituído pela destituição daquilo que ele antes considerava como objeto. "Sou o limite de minhas ilusões perdidas".

domingo, 2 de novembro de 2008

Questão Educacional Brasileira: Uma História


Questão Educacional Brasileira: Uma História

O papel desempenhado pelas instituições educacionais é de suma importância para o processo de socialização, porém, muitas vezes, esse papel é contraditório. A educação prepara os jovens para assumir diferentes posições sociais, ocupacionais e profissionais, reafirmando, assim, a problemática educacional existente. No caso brasileiro encontramos uma política educacional com traços específicos. Uma restrospectiva histórica acerca da realidade do sistema educacional brasileiro é necessária para entender seus reflexos nos dias atuais. É interessante notar que nessa periodização evidencia-se que economia e educação possuem relações estreitas: o primeiro momento abrange o Período Colonial, o Império e a I República (1500-1930, modelo agroexportador), o segundo período vai de 1930 a 1960 (correspondendo ao modelo de substituição das importações) e o terceiro vai de 1960 aos nossos dias (que corresponde, assim, ao período da internacionalização do mercado interno). Nós analisaremos os dois primeiros.
A importância de se conhecer os devidos períodos se traduz em enxergar a organização da economia e a especifidade da formação social brasileira como um todo. No primeiro momento a economia é caracterizada por um modelo de agroexportação, sendo que uma política educacional estatal é quase que inexistente. Não havia função, não havia importância no papel da educação, pois a qualificação para a monocultura latifundiária, assim como a diversificação da força de trabalho, era mínima. Restaram, então, funções ideológicas (porém que já eram muito bem asseguradas pelos meios de produção): a reprodução das relações de dominação e a de reprodução da ideologia dominante, funções estas desempenhadas pelas escolas de jesuítas, que asseguravam a reprodução da sociedade escravocrata e do poder da Igreja. A educação deve ser entendida, aqui, como uma arma pacífica que visava a manutenção das relações de produção implantadas desde a colônia e que pouco mudaram durante o Império e a I República. Enquanto não havia necessidade de qualificação da força de trabalho, notamos que a política educacional pouco mudava. Entretanto, com o fato da independência política, surge a necessidade da formação de quadros técnicos e administrativos novos, o que justifica o surgimento de escolas militares, de nível superior, ao longo do território nacional. O poder da Igreja, nesse período, devido ao fato de instituições de ensino não-confessionais estarem formando os quadros dirigentes, continua grande, mas começa a delinear seu futuro. No fim do Império e começo da República, uma política educacional estatal é embrionária e dá seus primeiros passos.
No segundo momento, que abrande o período de 1930 a 1960, temos na fase de 1930-1945 as instituições da sociedade política se fortalecendo devido à importância que os aparelhos jurídico e repressivo do Estado adquiriram como mediadores do processo econômico (produção de café para o mercado internacional). A atuação do Estado se deu entre este mercado e os interesses dos cafeicultores paulistas. Com a crise mundial de 1929, mudanças estruturais aconteceram, caracterizando, assim, o modelo de substituição das importações, onde houve a restrição da importação de bens de consumo e, ao mesmo tempo, o fortalecimento da produção industrial brasileira (no início somente para suprir os bens de consumo restritos).
Com essa substituição, houve uma relativização do poder econômico dos cafeicultores e o aparecimento de outros grupos, como uma nova burguesia urbano-industrial. Uma nova situação resulta numa nova organização: os aparelhos repressivos do Estado são reorganizados. Em 1937, com a implantação do Estado Novo de Vargas, a sociedade política invade áreas da sociedade civil, inclusive a educação. Em 1930, um Ministério de Educação e Saúde é criado visando mudanças, como a estruturação de uma universidade (que se daria por uma fusão de instituições isoladas de ensino superior). Um grande marco da nova Constituição de 34 é a implantação da gratuidade e obrigatoriedade do ensino primário, sendo o ensino religioso facultativo.
As mudanças macro-estruturais serão importantes para a refuncionalização do sistema escolar: o ensino profissionalizante é introduzido. Alegando a obrigação das indústrias em criar escolas de aprendizagem nas suas respectivas áreas, esse tipo de ensino estava previsto para as classes "menos privilegiadas", ou seja, os filhos de seus empregados. O que se enxerga é a busca por uma mão-de-obra semi-qualificada, mas de uma certa forma a educação continua representando um veículo de ascensão, embora possua suas contradições. A corrida para a criação de um "exército de trabalho", para o "bem da nação", nas palavras do então Ministro da Educação Gustavo Capanema, é deflagrada. O objetivo nada mais seria do que assegurar e consolidar as mudanças estruturais ocorridas tanto na infra como na superestrutura. E mais: a sociedade política firma-se no sistema educacional, enfraquecendo ainda mais a Igreja, e transformando-o em um "aparelho ideológico do Estado", visando a manipulação das classes subalternas. Antes elas eram excluídas do sistema educacional, mas agora é dada uma "chance" para os antes marginalizados. Porém essa via é falsa e se revela um beco sem saída.
A força de trabalho a ser recrutada manterá a configuração da sociedade de classes, já que a elite se preocupará em formar seus quadros dirigentes em escolas de elite e os setores médios e baixos da burguesia se preocuparão em ocupar as vagas do ensino propedêutico a fim de alcançar um título acadêmico (uma outra forma de ascensão). Restará, assim, a classe operária, semi ou desqualificada, que verá no ensino profissionalizante a sua única via de ascensão. Porém, aí encontra-se a dualidade: equivalendo ao nível médio, o ensino profissionalizante não prepara seus alunos a cursarem escolas de nível superior. Reproduzem-se, assim, a força de trabalho e uma sociedade de classes muito bem configurada. Em meio a esse cenário, as chances educacionais oferecidas pelas escolas técnicas "parecem" ter caráter de prêmio. Mas o que estão sendo assegurados são, na verdade, as condições para uma maior produtividade do setor industrial. Tudo isso financiado pelo Estado.
Na fase que vai de 1945 até o início dos anos 60 encontramos uma aceleração e diversificação no processo de substituição de importações, com a participação marcante do capital estrangeiro, que naquele momento não foi visto como um inimigo do projeto nacional-desenvolvimentista. Porém, ao longo dessa fase os conflitos irão se delinear. Haverá uma nova polarização: de um lado os setores populares, representados, até certo ponto, pelo Estado, e por alguns intelectuais de classe média; e de outro, um amálgama heterogêneo que compreendia grandes parcelas da classe média, da chamada burguesia nacional, do capital estrangeiro monopolista e das antigas oligarquias.
A política educacional reflete majestosamente a dualidade dos grupos no poder. A luta gira em torno, então, da Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e da Campanha da Escola Pública. Com a reorganização da economia brasileira no contexto internacional, as funções dadas à escola pelo Estado Novo não poderiam permanecer intactas. A Constituição de 46 havia fixado num dos seus parágrafos (Art. 5 XV, d) a necessidade da elaboração de novas leis e diretrizes para o ensino no Brasil, porém o texto definitivo de LDB só será sancionado em 1961 (remontando a 1948 o primeiro projeto-de-lei, encaminhado à Câmara pelo então Ministro da Educação, Clemente Mariani), tentando responder a certas ambições das classes subalternas. Entretanto a burguesia ainda era a "fração hegemônica" do "bloco no poder". As propostas, primeiro, a extensão da rede escolar gratuita (primário e secundário), segundo, criando a equivalência dos cursos de nível médio (inclusive o técnico), que, além de equiparados em termos formais, apresentam, nesse projeto, maior flexibilidade: permitem a transferência do aluno de um ramo de ensino para outro, mediante prova de adaptação. Esse projeto foi engavetado e retomado somente em 1957. Um novo projeto-de-lei conhecido pelo nome de "substitutivo Lacerda" (por ter sido apresentado pelo Deputado Carlos Lacerda) é encaminhado à Câmara. As "inovações" consistem em reduzir ao máximo o controle da sociedade política sobre a escola, restituindo-a, como instituição privada, à sociedade civil.
Essa colocação evidentemente esconde um interesse de classe. Aqui fala a fração que justamente quer excluir a classe operária de um possível mecanismo de ascensão (mesmo que simplesmente individual). Entretanto, que liberdade teriam os pais de um camponês, operário ou habitante de favela para escolher uma escola particular para seus filhos? Essa proposta, além de omitir o parágrafo da gratuidade do ensino no Brasil, era obviamente excludente. O resultado foi o "Manifesto dos Educadores", onde intelectuais, pedagogos e liberais protestaram, alertando o público e o governo sobre as implicações dessa proposta, como o financiamento da rede particular pelo Estado, porém sem o direito à fiscalização.
Dos muitos debates travados, resultou finalmente a Lei 4024 que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ela é o compromisso entre as duas tendências expressas pelos dois projetos-de-lei (Mariani e Lacerda). Assim ela estabelece que tanto o setor público quanto o particular têm o direito de ministrar o ensino no Brasil em todos os níveis. Se dessa forma os setores privados viram assegurados os seus direitos triunfando parcialmente a proposta Lacerda, a lei também absorve elementos da proposta Mariani, como a equiparação dos cursos de nível médio e a flexibilidade de intercâmbio entre eles (Art.51). A LDB reflete, assim, as contradições e os conflitos que caracterizam as próprias frações de classe da burguesia brasileira. Apesar de ainda conter certos elementos populistas, essa lei não deixa de ter um caráter elitista. Ela, ao mesmo tempo que dissolve formalmente a dualidade anterior do ensino (cursos propedêuticos para as classes dominantes e profissionalizantes para as classes dominadas) pela equivalência e flexibilidade dos cursos de nível médio, cria nesse mesmo nível uma barreira quase que intransponível, assegurando ao setor privado a continuidade do controle do mesmo. Assim, a criança pobre, incapaz de pagar as taxas de escolarização cobradas pela rede, não pode seguir estudando.

(Escola, Estado e Sociedade/ Bárbara Freitag- 4. ed. rev. - São Paulo: Moraes. 1980.)

Afinal, a lei não deveria assegurar aos seus cidadãos uma sociedade justa?

Ahhh a intuição...

Intuição, em filosofia, é o nome dado ao processo de apreensão racional não-discursiva de um fenômeno ou de uma relação. Se a razão discursiva se caracteriza por um processo paulatino que culmina numa conclusão, a intuição é compreensão direta, imediata de algo.

"Intuição é o entendimento claro do todo, de uma só vez." (Johann Kaspar Lavater)

"Não existe nenhum caminho lógico para a descoberta das leis do Universo - o único caminho é a intuição." (Albert Einstein)

Fonte: Wikipédia

Temos que começar a confiar mais em nossas intuições, não em todas, mas pelo menos nas mais intensas, se é que existe um jeito de medi-las. É, a vida ensina...

terça-feira, 30 de setembro de 2008

A coisificação


A coisificação de Paulo Honório: uma alusão ao homem e suas ambições
(da obra "S. Bernardo" de Graciliano Ramos)

Paulo Honório, a personagem central da trama. Um homem como qualquer outro, sob um primeiro olhar. "Até os dezoito anos gastei muita enxada ganhando cinco tostões por doze horas de serviço". Um fazendeiro antes homem pobre do sertão que, ao mesmo tempo que conquistou, perdeu. Perdeu, aliás, algo que faz parte da essência de um homem: o traço humano, a humanidade.
A coisificação do homem foi muito bem trabalhada na obra "S. Bernardo" de Graciliano Ramos e representa um dos legados literários mais ricos de nossa literatura, sendo um dos marcos do Modernismo brasileiro. O livro conta a história da vida de Paulo (narrada por ele mesmo), que conquistou muitas riquezas ao comprar São Bernardo, fazenda que ele fará crescer e gerar grandes lucros. Para obter tal feito, ele passará por cima de muitas pessoas tendo em mente seu grande desejo de enriquecimento: "a princípio o capital desviava de mim, e persegui-o sem descanso, viajando pelo sertão, negociando com redes, gado, imagens, rosários, miudezas, ganhando aqui, perdendo ali, marchando fiado, assinando letras, realizando operações embrulhadíssimas. Sofri sede e fome, dormi na areia dos rios secos, briguei com gente que fala aos berros e efetuei transações comerciais de armas engatilhadas".
O processo que se observa na história é que durante seu enriquecimento, ele vai deixando de ser um "ser humano" sob um ponto de vista psicológico. Paulo Honório perde seus raros bons sentimentos, restando o ódio e a ganância. A culpa que será marcante, passada a narrativa da história, onde ele tentará resgatar a sua humanidade: "emoções indefiníveis me agitam- inquietação terrível, desejo doido de voltar, tagarelar novamente com Madalena, como fazíamos todos os dias, a esta hora. Saudade? Não, não é isto: é desespero, raiva, um peso enorme no coração". O desejo de enriquecer se torna tão evidente como a desumanização desenvolvida em torno de seus empregados, chegando a atribuir características de animais aos mesmos, "Casimiro Lopes, que não bebia água na ribeira do navio, acompanhou-me. Gosto dele. É corajoso, laça, rasteja, tem faro de cão e fidelidade de cão". Casimiro Lopes, para Paulo, o entende mais que todos, pois a semelhança entre os dois é tão grande (desconsiderando que um será o patrão e o outro o empregado) que até parecem serem uma pessoa só. Solidariedade e respeito são conceitos que Paulo Honório desconhecerá.
Convenhamos que isso não é mera ficção, nem algo incomum. No mundo contemporâneo, principalmente pós-Revolução Industrial, o homem vem sendo tratado como um corpo que produz. Dispensamos a visão do corpo sob uma perspectiva biológica para compreendê-lo como uma engrenagem em uma grande máquina. Essa grande máquina é o mundo do trabalho, onde o objetivo maior é acumular capital. Nesse nosso sistema explorador, o trabalho passa a ser, muitas vezes, sinônimo de tortura e uma de suas consequências é a coisificação do homem quando nos deixamos dominar psicologicamente pelo sistema. Obter sucesso ultrapassa, muitas vezes, valores humanos, fazendo com que muitos pisem e ignorem os outros, deixando de encará-los como iguais.
Tal processo é observado no livro em muitas passagens, como no início do capítulo XXI, onde Paulo Honório diz "a culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste que me deu uma alma agreste". Nesse trecho ele se lamenta pelo fato de não ter conhecido Madalena, sua esposa, por completo. Agindo de má-fé e adotando uma visão determinista, ele culpa o modo de vida ao qual ele se submeteu como agente coisificador, o que veio a ter como resultado o desprezo por sua mulher. A vida de Madalena perdeu sentido ao lado de Paulo, ela vivia triste e diante da situação "afirmei a mim mesmo que matá-la era ação justa. Para que deixar viva mulher tão cheia de culpa? Quando ela morresse, eu lhe perdoaria os defeitos". A brutalidade do pensamento do fazendeiro é grande e não se limitou ao campo teórico.
Além do desprezo por Madalena, o fazendeiro agia brutalmente com ela, Dona Glória (tia de sua esposa), seus empregados e diante dos fatos do dia-a-dia: "vão ver aquele infeliz", grita para Madalena e Dona Glória quando o filho dos dois começa a chorar. Quando Paulo Honório surpreende Madalena escrevendo uma carta endereçada para Azevedo Gondim ele a manda mostrar, mas ela nega alegando que o conteúdo somente interessa a ela. Ele a pega pelo braço e ela reage: "vá para o inferno, trate de sua vida". Ele, enfurecido, diz: " deixa ver a carta, galinha". A situação se torna mais dramática quando Dona Glória (uma pessoa de pouca dignidade segundo ele) chega à porta: "vá amolar a puta que a pariu. Está mouca, aí com a sua carinha de santa? É isto: puta que a pariu. E se achar ruim, rua. A senhora e a boa de sua sobrinha, compreende? Puta que a pariu as duas".
O materialismo que se desenvolve e o medo da perda dos lucros é um dos traços que dominam a personalidade de Paulo Honório, traços estes, que apresentam tanta força como sua brutalidade. A caridade prestada por Madalena aos seus empregados, sua visão socialista e o fato de ser uma mulher instruída causam-no preocupação. "A culpada era Madalena, que tinha oferecido a Rosa um vestido de seda. É verdade que o vestido tinha um rasgão. Mas era disparate" e "comunista, materialista. Bonito casamento! Amizade com o Padilha, aquele imbecil. 'Palestras amenas e variadas'. Que haveria nas palestras? Reformas sociais ou coisa pior. Sei lá, mulher sem religião é capaz de tudo". Note que na verdade o materialista é o próprio falante.
A sua própria relação com Madalena tem um início junto a um obejtivo: criar um herdeiro para S. Bernardo. "Amanheci um dia pensando em casar. Foi uma idéia que me veio sem que nenhum rabo-de-saia a provocasse. Não me ocupo com amores, devem ter notado, e sempre me pareceu que mulher é um bicho esquisito, difícil de governar". A própria posição a qual Paulo Honório se coloca tem vínculos com sua ambição. O amor não existe. Talvez uma pequena atração, mas nada além disso. O fim de tal ação seria a criação de um herdeiro que trilharia as mesmas ambições do pai. Entretanto, o proprietário de São Bernardo, não teve forças para sustentar a prosperidade desse casamento e tudo desmoronou de uma forma trágica. As brigas do "casal" começaram pouco tempo após tornarem-se marido e mulher. Paulo Honório achou que tudo que Madalena precisava era da sua riqueza para, então, ser feliz. A riqueza que ele conquistou, passando por cima de pessoas e se envolvendo em assassinatos, não foi suficiente para dar amor a Madalena, que "possuía um excelente coração" segundo ele algo que o sensibilizou, "descobri nela manifestações de ternura que me sensibilizaram. E, como sabem, não sou homem de sensibilidades. É certo que tenho experimentado mudanças nestes dois últimos anos. Mas isto passa".
"Que mãos enormes! As palmas eram enormes, gretadas, calosas, duras como casco de cavalo. E os dedos eram também enormes, curtos e grossos. Acariciar uma fêmea com semelhantes mãos!". Em um certo momento, Paulo Honório começa a reconhecer a condição de coisificação que se traduz numa animalização dele mesmo. Ele começou a se sentir bruto na aparência, um reflexo da sua alma que agora se exteriorizava. " Levantei-me e aproximei-me da luz. As minhas mãos eram realmente enormes. Fui ao espelho. Muito feio, o dr, Magalhães; mas eu, naquela vida dos mil diabos, berrando com os caboclos o dia inteiro, ao sol, estava medonho. Queimado. Que sobrancelhas! O cabelo era grisalho, mas a barba embranquecia. Sem me barbear! Que desleixo!".
Aqui faço alusão à obra "A Metamorfose" de Franz Kafka onde o caixeiro-viajante Gregor Samsa ao acordar para o trabalho, numa manhã, vê que se transformou em um terrível inseto "com um dorso duro e inúmeras patas". Nesse estado, Gregor começa a refletir sobre sua metamorfose, primeiro sob um aspecto físico, depois sob um aspecto psicológico. Uma metáfora da sociedade, Gregor conclui que ele era somente o "sustento" da casa, nada mais, ou seja, ele era a fonte de renda. Paulo Honório não foi a vítima, como Gregor Samsa, porém as semelhanças entre as duas personagens existem: o fazendeiro Paulo Honório se sentiu metamorfoseado em um animal bruto, não em um inseto debilitado, mas chegou à conclusão de que se objetivo até agora tinha sido o sustento de seu grande negócio e isso o tornou maquinário, um animal sem sentimentos. Gregor se sentiu uma "coisa" ao mesmo tempo que era visto como uma "coisa" por sua famíla. Tal visão é despertada em Paulo Honório, principalmente, após a morte de Madalena, que o fará pensar que talvez durante todo esse tempo ela o via assim: bruto e animalesco.
A morte de Madalena. Um choque para Paulo Honório. Madalena foi vítima de um intenso ciúme e para o fazendeiro, ela era acima de tudo sua propriedade. "E se eu soubesse que ela me traía? Ah! Se eu soubesse que ela me traía, matava-a, abria-lhe a veia do pescoço, devagar, para o sangue correr o dia inteiro". Não foi preciso que ele cometesse tal crime, não duvido que ele seria capaz de tal brutalidade, mas não foi necessário. "Madalena estava estirada na cama, branca, de olhos vidrados, espuma nos cantos da boca". Desde então, ele vive perturbado e de algum modo questiona a maneira que viveu e as ações que tomou. "O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade embotada" e "cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma pessoa a vida inteira sem saber para quê! Comer e dormir como um porco! Como um porco! Levantar-se cedo todas as manhãs e sair correndo, procurando comida! E depois guardar comida para os filhos, para os netos, para muitas gerações. Que estupidez! Que porcaria! Não é bom vir o diabo e levar tudo?".
E foi exatamente o que aconteceu: aos poucos as pessoas foram indo embora. "(...) e nem sequer me resta a ilusão de ter realizado obra proveitosa. O jardim, a horta, o pomar- abandonados (...)". São Bernardo aos poucos perdeu o brilho que somente Paulo Honório enxergava: um brilho que foi construído em cima do sofrimento de seus empregados. Viúvo, ele sente angústia em relação a Madalena e também pelo fato de não ter a amizade de seu filho, relatando sua história como uma tentativa de resgatar sua humanidade. "Se Madalena me via assim, com certeza me achava extraordinariamente feio". "Fecho os olhos, agito a cabeça para repelir a visão que me exibe essas deformidades monstruosas". Ele está no caminho certo. Paulo Honório reconheceu o que foi e o que fez em prol de suas ambições.

E nós: podemos nos coisificar tanto quanto Paulo Honório?

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Culosofia

A culosofia é uma doutrina revolucionária, uma filosofia dos tempos modernos.
Sua utilização é recomendada para doenças do sistema nervoso, mágoas, ataques de raiva e ira, mas, fundamentalmente para a libertação.
Quando você mandar tomar no cu, você se posiciona verdadeiramente.
Mandar tomar no cu muda tudo, porque você se torna o dono da sua própria história e seu efeito colateral é o aumento da auto estima e a liberdade de retomar as rédeas da sua vida nas suas mãos.
Saudações culosóficas a todos.

(Cris Nicolotti)
5 Mandamentos da Culosofia

1) Nunca esmorecer. Lute por suas metas até o cu fazer bico.
2) Seja humilde. Não conte com o ovo no cu da galinha.
3) Procure o caminho certo da sua vida, mesmo que ele esteja no cu do Judas.
4) Não seja avarento. Não precisa encher seu cu de dinheiro.
5) Esqueça a luxúria. Apague o fogo do seu cu.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Poema


De manhã, escureço
de dia, tardo
de tarde, anoiteço
de noite ardo
a oeste, a morte, contra quem vivo
do sul cativo, o oeste é meu norte
outros contem, passo por passo
eu morro ontem
nasço amanhã
ando onde há espaço
meu tempo é quando.

(Vinícius de Morais)