sábado, 6 de dezembro de 2008

Filosofia da Ciência (continuação 3)

(Idealismo Discursivo- continuação 3)

"Havia em mim tantos aspectos que não eram meus e que perturbavam a consistência lógica de minha essência! Ao afastá-los de mim, eu me reconstituo"

"São raros os momentos em que o cogito distinto se esclarece numa conquista objetiva; são como a consciência de um nascimento". Esse funcionamento não é imediato e ficamos à espera de "instantes criadores". Por isso a meditação deve começar com um esforço lento, num cogito negativo onde, assim, seriam evidenciados os laços essenciais. "O espírito vê-se assim melhor no limite de si mesmo". Para Bachelard, essa ciência pedagógica fortaleceria uma cultura intelectual, pois estaríamos refazendo o erro em nós mesmos para perceber o papel de um conhecimento, sua importância. Estaríamos entendendo a importância de algo através de sua própria perda, uma dialética ontológica, como no exemplo proposto por Bachelard: "o que seria a consciência de uma força moral sem a lembrança da tentação?". Essa dialética poderia ser aplicada nos mais diversos campos.
A compreensão se dá na oscilação do ser e do não-ser: a clareza de entendimento do ser acontece quando ele toma consciência de seu aniquilamento. É um instante de renascimento, de reconhecimento, onde o ser vibra com toda a sua força. O conhecimento é construído a partir de ilusões que o sujeito perde. "O sujeito, ao meditar o objeto, elimina não só os traços irregulares no objeto, mas atitudes em seu próprio comportamento intelectual": "o ser está em luta constante contra suas aparências". Aliás, para Bachelard, no momento em que compreendemos essa noção de aparência, nós somos, ao mesmo tempo, vítimas e vencedores. Isso tudo é fonte de uma intuição nova, que já não é mais a cartesiana.
Não há sujeito puro e não há objeto dado, ambos se constituem ao longo do processo de objetivação. O sujeito é aquela razão que permeia a discussão (um diálogo onde não há precisão); ele surge da polêmica. Ambos, sujeito e objeto, são perdidos e reconquistados. "Não há tensão sem prévio descanso". Há com certeza, em Bachelard, uma preocupação com o método: estamos numa constante luta contra as aparências, mas essa luta jamais terá um fim, a promessa é a de um inacabamento.
"Pensar-se como ser é abjurar seus erros. Logo, só conseguirei me descrever como sou se disser o que não quero ser. (...) Só aparecerei com clareza a mim mesmo como a soma de minhas renúncias. (...) É pela comparação de nossas renúncias que temos chances de sermos parecidos uns com os outros (...). De fato, só somos originais por nossos erros. Somos seres de fato apenas pela redenção". Tal redenção, para Bachelard é o "vôo vertical", que é criação. O pensamento, então, teria a dupla confirmação de sua realidade: subjetiva e objetiva. Não sabemos, porém, como criar esses instantes em nós e ficamos à espera dessa síntese...
Gaston Bachelard conclui que o esforço metafísico para perceber o ser em nós mesmos é uma perspectiva de renúncias. Para se chegar ao sujeito puro devemos perder nossas ilusões.

"Sou o limite de minhas ilusões perdidas"

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