sábado, 29 de novembro de 2008

Filosofia da Ciência (continuação)

(Continuação- Idealismo Discursivo)

"A verdade é sempre resultado de uma polêmica"

A verdade é sempre resultado de uma polêmica e o erro contribui para se conquistar o saber. Para Bachelard, o ser é o ser desiludido. Instala-se na dúvida como num método: o espírito ama duvidar. No racionalismo bachelardiano é preciso partir do erro e ter má vontade com os dados imediatos o que, com um espírito contraditório, nos possibilitaria sair de nosso próprio sistema. Poderíamos, é claro, viver isolados cultuando uma razão subjetiva, mas queremos perturbar a calmaria do senso comum: "E- novo paradoxo- é desse esforço para impor uma idéia original que nasce no homem a razão universal! É o detalhe que dita a lei; a exceção torna-se regra; o sentido oculto é o sentido claro!".
As noções primeiras são obstáculos epistemológicos, ou seja, obstáculos que aparecem dentro do próprio conhecimento e quando derrubamos essas noções, passamos por um "despertar intelectual" que é fonte de uma intuição nova (diferente da cartesiana), marcada pela racionalidade e pela polêmica; tendo como motor "o doce amargor de uma ilusão perdida". É uma construção constante da verdade: a razão é sempre inacabada, ela é dinâmica e não se sustenta com uma verdade primeira. No campo do conhecimento científico temos, para Bachelard, uma oposição entre razão e intuição, onde as verdades analíticas (apodícticas) pouco a pouco substituiriam as verdades empíricas (assertóricas); o próprio "eu" se daria por enganos (constitui-se assim o ortopsiquismo). O cogito não pode ser fundamento de nada, pois se dá somente num instante. E o instante é um acontecimento entre dois nadas.
O futuro é um vazio, mas interfere "na plenitude de nossas impressões presentes". Entretanto as impressões presentes não podem ser absolutas. Os motivos para nos tornarmos dinâmicos abalam os motivos para permanecermos estáticos. Eis que surge o idealismo discursivo. Um começo difícil, passando por todas as dificuldades, o inacabamento tornando-se uma promessa e consciente de suas próprias fraquezas. Esse é o idealismo de Bachelard: o sujeito elimina os traços irregulares no objeto e em si próprio, se desloca do seu pensamento, se vê refletindo, possuí consciência de todas as retificações e "a vida objetiva ocupa toda a alma". São reconstruções diferentes na essência. Quando o sujeito se percebe com clareza e distinção é porque se retificou inteiramente. "A alma vibra num pensamento feliz quando encontra ressonâncias e simpatias no mundo objetivo".

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