domingo, 12 de dezembro de 2010

Michino Mallecho


Michino Mallecho

Malinowski revolucionou a antropologia ao ser forte defensor da observação participante, método que passou a ser capital para a ciência antropológica que conquistava espaço no contexto do século XIX.

Cabe ressaltar a importância de tal método; a saber: o trabalho de campo ou observação participante constitui-se como uma imersão do pesquisador na sociedade que ele pretende estudar, colocando como fundamental a vivência do mesmo em meio ao contexto cultural do “objeto” de pesquisa. As exigências do método antropológico tão cedo se mostram como enunciadoras de diversos problemas: “como abandonar um olhar etnocêntrico?”, “como aprender com uma cultura completamente diferente da nossa?” e “é possível descrever uma sociedade de maneira que nosso olhar não contamine nossas descrições?”.

A experiência relatada em “Michino Mallecho” ilustra bem essa questão. De forma sintética, o relato de uma professora-antropóloga ao dizer que tentará ler e interpretar “Hamlet” junto a uma tribo africana é marcado por descrença. O olhar etnocêntrico do europeu não permitiu a ela crer que os indivíduos de uma tribo africana (que nada tinham a ver com a cultura branca europeia) pudessem interpretar e apreender o caráter universal da obra shakespeariana.

O olhar etnocêntrico perde, pouco a pouco, o seu campo de influência a partir do momento em que ela se dá conta de estar frente a uma interpretação um tanto original (absurda de imediato) da história que ela propôs a contar. A coerência da interpretação da tribo foi motivo de espanto e perplexidade, porém foi um ponto crucial no que diz respeito ao método da antropologia.

A estudiosa foi obrigada a abandonar suas pré-concepções e a mergulhar no sistema cultural da tribo para entender essa história que, mesmo tendo sido escrita pelo gênio inglês, foi escrita novamente pelo gênio daquela tribo.

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