CULTURA
A temática cultura representa uma discussão em aberto em nossa sociedade, principalmente nos meios de ensino e pesquisa; no mundo acadêmico: tal questão se deve ao fato de que o termo cultura é um ponto de convergência de inúmeras abordagens, muitas vezes distintas. Tentaremos, aqui, trazer à tona algumas dessas discussões, nos baseando, sobretudo, na obra “cultura: um conceito antropológico”, de Roque Laraia.
Sabemos que o homem é a espécie dominante do planeta Terra e que ele produz um mundo que se destaca da natureza dada, logo habita um mundo construído marcado pelo signo da pluralidade. A cultura, esse produto do homem, tem sua origem colocada em questão. Laraia inicia sua obra problematizando tal conceito com a questão do determinismo biológico e geográfico.
O determinismo biológico representa um conjunto de teorias que pretende explicar a produção de cultura a partir do aparato biológico humano e do preenchimento de certas necessidades (biológicas). O determinismo geográfico, por sua vez, abrange um conjunto de teses que enxerga o meio no qual se vive como fator determinante no que diz respeito às expressões culturais das diversas sociedades humanas. A cultura, assim, teria um caráter funcional: a organização das sociedades humanas e a distribuição dos papeis sociais estariam subordinadas ao biológico e ao hábitat (localização e clima) da sociedade colocada em questão. As diferenças seriam, assim, explicadas através desses elementos de base e de suas variações.
A compreensão do conceito de cultura a partir de tais perspectivas não responde a todos os problemas advindos das observações empíricas, ou seja, do confronto com a pluralidade que se impõe de maneira incontestável. Uma crítica aos determinismos pode ser feita: se fatores biológicos e climáticos fossem determinantes na produção da cultura, nós teríamos que encontrar as mesmas respostas (ou produtos) para questões que se impusessem da mesma maneira. Não é isso, porém, que constatamos: a cultura não é determinada por fatores biológicos e climáticos, mas sim influenciada pelos mesmos, o que constitui uma abordagem diferente da anterior.
Assim, a cultura passa a ser uma ruptura com o dado bruto – com o orgânico – e, por sua vez, exerce forte influência sobre ele. Isso se traduz num sentido inverso ao que abordamos no início desse texto: apesar de sofrer influências biológicas e geográficas, a cultura também exerce poder sobre os mesmos, não constituindo um sistema orgânico, mas um sistema superorgânico.
Tal capacidade de desenvolver sistemas e modos de vida que rompem com uma natureza estritamente determinada se deu paralelamente ao desenvolvimento do cérebro e da inteligência humanas, bem como da elaboração de técnicas primitivas, mas que foram fundamentais para a manutenção da vida humana em seus primórdios. O elo perdido da antropologia diria respeito ao momento (ou ser vivo) que representaria o salto do animal para o animal simbólico. Entretanto, a busca de tal elo constitui uma história das frustrações: atualmente acredita-se numa evolução lenta e gradual, na qual a cultura manifestou-se da mesma forma. Entretanto essa forma nunca é única e se manifesta de maneira plural. E ainda mais: dentro de uma única sociedade nós encontramos manifestações diversas, e até opostas, da cultura.
A afirmação, portanto, de que o homem é um ser de cultura não representa, pois, um grave reducionismo, pois aonde quer que ele se encontre estará apto a transformar o mundo e a criar valores de alguma maneira.
Obra base para a discussão do tema:
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 24.ed. Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.
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