Meditação primeira e meditação segunda
René Descartes, filósofo, físico e matemático, se questionou porque as explicações para várias coisas não eram satisfatórias, o que se traduziu no momento em que Descartes se desfez de todas as suas antigas opiniões, se questionando nas chamadas "meditações metafísicas" que são radicais (radical no sentido de raiz) e hiberbólicas, última característica esta que revela o exagero óbvio e intencional de tais obras.
Descartes se isolou da sociedade na Holanda, e foi dessa maneira que começou suas meditações. Ele chegou à conclusão de que ele não precisaria destruir cada idéia, mas simplesmente duvidar das raízes do conhecimento: os sentidos e a razão. Descartes queria achar uma única verdade para construir um novo "edifício" do conhecimento. Os sentidos nos dão a existência e as qualidades das coisas. Para derrubá-los no que se diz respeito as características do mundo material, Descartes propôs o argumento da torre que à longa distância é vista diferente tal como ela é. E para tentar derrubar os sentidos no que se diz respeito à existência das coisas, ele propôs o argumento do louco, que diz que uma pessoa tomada pela loucura dá existência a coisas que não existem. Por exemplo: um louco pode estar vestido com trapos, mas pensar que está vestido com uma roupa bordada a ouro. Entretanto, Descartes viu que isso funcionava apenas com os loucos, por isso desenvolveu o argumento do sonho, que tem um poder de convencimento imenso. Esse argumento diz que quando sonhamos as percepções do sono são indistinguíveis das percepções de vigília, sim, aí percebemos que nossos sentidos nos enganam. E para que confiar em quem já nos enganou? Nesse ponto Descartes coloca em dúvida o próprio mundo sensível, dizendo que talvez o mundo seja muito diferente do que é na realidade e até que nós mesmos sejamos diferentes, mas é importante evidenciar que pelo menos temos algum vínvulo com a realidade verdadeira e que as cores que nos compõem também são reais.
Com os sentidos colocados em questão, Descartes começa a duvidar da razão. Ele se pergunta o motivo de errarmos em contas simples, mesmo se dominamos bem o assunto (fazer contas de somar, por exemplo). Ele associa esses erros, essas "mancadas" que nós cometemos a Deus, que é soberano, tudo pode e por isso nos engana. Mais tarde supõe que Deus não exista (coisa que ele virá a negar ao longo de suas outras meditações, chegando na certeza de que Deus existe e é onipotente) e diz que quem nos engana é o "gênio maligno", que vive para nos confundir, mas que também é colocado em questão (pelo que observamos, Descartes coloca dúvidas sobre dúvidas, reafirmando a essência da filosofia que é a de criar mais questionamentos do que nos trazer respostas).
Duvidando praticamente de tudo, menos de que o homem é um composto corpo mais alma (um composto que se separa numa substância extensa e em outra pensante, baseada na filosofia platônica de mundo sensível e inteligível), Descartes pelo menos pôde encontrar uma única verdade nas suas duas primeiras meditações: PENSO LOGO EXISTO (COGITO ERGO SUM). Em todos os momentos ele estava pensando e duvidando, chegando à conclusão de que tudo pode estar errado, o mundo pode ser diferente, ele mesmo pode ter outra aparência, ou até não ter corpo, mas ele não pode duvidar que estava duvidando, consequentemente, pensando e existindo. Ele sabe que existe: "a única forma de garantir que existo é porque penso".
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