terça-feira, 19 de julho de 2011

Galileu


GALILEU

Galileu, em sua discussão acerca da validade do conhecimento científico, coloca-se contra o argumento de autoridade no que diz respeito ao modo como conhecemos e entendemos a natureza. Com essa postura, Galileu acrescenta ao real certas características que, supostamente, permitiriam ao sujeito cognoscente o acesso a uma realidade oculta não dada de antemão, principalmente ao vulgo.

É importante ressaltar que, por mais que o real possua as características a seguir enumeradas, o valor epistêmico depende, também, de uma postura fundamental daquele que conhece – constitui, assim, uma via de mão dupla na qual o sujeito deve obedecer a certas regras para conhecer verdadeiramente.

O real, a natureza a ser conhecida – porém, nunca esgotada –, necessita possuir certas características que possibilitem uma prática científica segura e rigorosa. Frente à evidência sensível do devir, do aparecimento e desaparecimento dos corpos que a física e a matemática pretendem descrever, Galileu postulará como características intrínsecas ao real, estas expressas pelas leis formuladas no interior de uma lógica matemática e científica.

A natureza, o real, é um livro escrito em caracteres matemáticos: a matemática, por sua vez, expressa as características que permitem que a realidade em fluxo seja conhecida por seu valor de eternidade. Nenhuma lei poderia ser formulada ou conhecida se abríssemos mão dessas características, pois são elas, também, que garantem a reprodutibilidade do conhecimento científico – caráter essencial para todo conhecimento que se pretenda compreensível por uma comunidade científica.

Diante do real, os sentidos humanos devem ser instruídos para que o conhecimento racional ganhe seu devido espaço: a inteligibilidade do real, para além das teorias que construímos acerca do mesmo, é uma realidade afirmada por Galileu e alcançada por experiências sensíveis e demonstrações necessárias. Seu fim – e aqui não podemos adotar o sentido de finalismo, como em Aristóteles – é a quantificação, pois a própria natureza é quantificável na medida em que possui uma estabilidade, uma constância em sua base. A essencialidade da natureza, segundo Galileu, é matemática. Tal essencialismo, assim, nos permite afirmar a possibilidade de um conhecimento regular, de uma descrição do real e da descoberta de suas leis.

Outra característica é o caráter aberto do “livro da natureza”: entretanto, requer-se o conhecimento e a instrumentalização matemática e científica para que seus caracteres possam ser compreendidos. Salientemos, pois, que ele é aberto para qualquer sujeito que queira conhecer e que se instrumentalize, uma vez que as demonstrações, que guiam os homens nesse conhecimento, são universais ou buscam concretizar uma universalidade.

Assim, o real jamais pode ser fechado como um livro qualquer, tendo o direito de ser publicizado, mesmo que se defronte com a autoridade moral ou religiosa. Entretanto, além do real ser inexorável, imutável, eterno, o sujeito da ciência tem que possuir certas características para assumir o projeto científico.

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