DESCARTES
Toda a questão que relaciona a física com a metafísica diz respeito à necessidade de se fundar a ciência em bases que sejam sólidas, seguras e eternas. A crise do modelo científico – da concepção de ciência – abriu espaço para os questionamentos céticos, fazendo com que a possibilidade de um conhecimento verdadeiro do real mergulhasse em grande dúvida. Assim, o combate ao ceticismo será capital, o que desembocará numa busca de princípios sólidos para a construção de uma base segura para uma nova teoria da ciência.
Desse modo, a física não asseguraria, por si só, a certeza acerca de seus próprios princípios e métodos – de forma que à metafísica restariam essas funções: a de buscar uma ciência certa, a de fazer as distinções necessárias (como a de forma e matéria), a de garantir o método e o fundamento como verdadeiros. A busca do esclarecimento de tais pontos e de suas definições possibilitaria fundar os aspectos que assegurariam um conhecimento correspondente ao real e – por isso – verdadeiro. Dessa forma, explicitando também o sujeito cognoscente e o mundo que o mesmo está apto a conhecer, Descartes busca estabelecer a correspondência que o conhecimento elaborado pela física teria com a realidade.
A obrigatoriedade de tal fundamentação torna-se evidente quando buscamos um princípio que justifique os procedimentos e a base de uma ciência particular. A metafísica teria o papel de validar as hipóteses e de discutir, em Descartes, questões que transcendem a própria ciência a ser justificada.
Em sua fundamentação metafísica da ciência, Descartes chegará a Deus como o alicerce que permite a correspondência entre pensamento e realidade exterior ao pensamento, não permitindo que a situação solipsista permaneça como a predominante. Seria preciso demonstrar como as ideias que obedecem ao método e que formulamos acerca da realidade correspondem, de fato, à realidade.
Não dar um princípio claro e distinto para a física seria deixá-la fragilizada diante da dúvida, uma vez que tal ciência pretende conhecer e descrever a primeira das realidades que desaparece e que mostra seu caráter de mudança incessante – que é a realidade física, o devir. Dar uma base segura para a ciência, fundamentalmente, é assegurar a validade de seu método e os princípios que o fundam, explicitando a sua verdade.
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