sábado, 28 de novembro de 2009

A Teoria da Ideia e a Existência de Deus

A Teoria da Ideia e a Existência de Deus


Para Descartes, a ideia é uma ato representacional, constituindo uma realidade no pensamento sem o comprometimento com a existência material do objeto. Nas três primeiras meditações metafísicas, o itinerário começa com a dúvida metódica (abalando todas as nossas certezas) e logo depois chega-se à descoberta do sujeito pensante, o cogito (primeira certeza indubitável). Porém, o cogito, apesar de resistir a qualquer dúvida, não destroi o argumento do Deus enganador que, por sua vez, só será superado quando Descartes provar que Deus existe e é veraz. A terceira meditação foi formulada com esse objetivo, partindo para uma análise da ideia e do princípio de causalidade, juntamente com a posse da primeira verdade.
O papel desempenhado pela teoria da ideia formulada por Descartes é de suma importância para a prova a posteriori da existência de Deus, pois esse é a ideia de um ser infinito e pleno que concebemos em nosso pensamento, possibilitando a compreensão de nossas carâncias e finitude. Na filosofia racionalista tudo possuí uma causa e o princípio de causalidade é supremo: Descartes partirá das ideias para chegar a Deus; para buscar a causa dessa ideia de um ser para o qual nada falta.
A ideia, enquanto ato, não se diferencia de nenhuma outra: ela possuí uma realidade atual, ou seja, no pensamento. Outra característica da ideia é a sua realidade objetiva, que remete ao conteúdo, à complexidade e aos graus de realidade. Chegamos, aqui, em um ponto importante: algumas ideias possuem mais realidade que outras.
Descartes afirmará que existe uma hierarquia das ideias. Das ideias de propriedades à ideia de objeto fito até a ideia de infinito. A última possuiria mais realidade, sendo inconcebível sua geração a partir das que possuem menos realidade objetiva, lembrando que o conceito de real é bem mais amplo que o de existir.
Como nós, seres finitos, possuímos a ideia de um ser infinito dotado de perfeições atuais? Não podemos supor que nós, finitos, criamos a ideia desse pleno ser, pois estaríamos rompendo com o princípio de causalidade, admitindo que o que possuí menos realidade pode criar o que possuí mais realidade. Somos forçados a aceitar que a ideia de um ser infinito, ao qual nada falta, foi depositada em nós por uma causa que seria a causa dela mesma. Deus existe e é a causa da ideia que temos dele. Enquanto somos somente potência, Deus é atual em todas as suas infinitas qualidades, que podemos conceber, mas jamais compreender em sua totalidade.

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