sábado, 21 de novembro de 2009

Pro Dia Nascer Feliz


Proposta de discussão acerca do documentário “Pro Dia Nascer Feliz”.

1- Quais são os principais aspectos tratados no documentário “Pro Dia Nascer Feliz”?

2- Quais são os temas que você julga necessitar de maiores investimentos pelo setor público em Educação?

*1*

É importante, antes de tudo, ressaltar que os principais aspectos tratados no documentário não se esgotam na esfera escolar, pois englobam questões mais abrangentes, como a família, a existência, a escolha profissional e a realização pessoal. A escola, porém, é aqui o palco onde é anunciado o escândalo da educação pública que, apesar de encontrarmos exceções, compõe o massivo cenário do Brasil atual.

Em primeiro lugar, ressaltamos a importância da educação como aspecto fundamental na formação humana, com seus consequentes desdobramentos no exercício da cidadania, como destacado no início do documentário a questão da escolha dos dirigentes da pátria.

Em segundo lugar, a precariedade de escolas, localizadas principalmente em áreas muito pobres a nível nacional (o caso de Manari, Pernambuco) e em periferias localizadas a poucos quilômetros dos grandes centros econômicos e turísticos brasileiros. Quanto ao problema da infraestrutura, vimos que “existem 210 mil escolas no Brasil. 13,7 mil não têm banheiro, 1,9 mil não têm água (fonte: Censo escolar 2004/MEC-INEP)”, o que afeta qualquer desenvolvimento saudável do estudante que vive sob tais condições. Além disso, o orçamento que as instituições escolares recebem não supre as reais necessidades das mesmas. A situação torna-se ainda mais gritante ao tomarmos conhecimento da grande jornada que muitos alunos enfrentam para chegar ao estabelecimento escolar, dependendo de meios de transporte em péssimas condições (ônibus superlotados) e sem nenhuma manutenção que, como foi mostrado, deixam de funcionar e comprometem as aulas.

Em terceiro, constatamos, em meio às exceções, o descompromisso de muitos alunos e professores, configurando muitas vezes um conflito em sala de aula, onde as relações passam a ser desgastantes e complicadas para ambos os lados. O desrespeito é o que se vê, nos fazendo refletir se o modelo relacional professor-aluno/aluno-professor não está ultrapassado e nos levando ao fracasso escolar: o professor é visto como um inimigo; o aluno, por sua vez, é visto como um fardo social e psicológico. Os professores faltam e os alunos “matam aula”. Claro que não podemos ignorar aqueles alunos e professores que lutam por uma escola melhor, compondo grupos de estudo e aprofundamento de conteúdo, bem como trabalhos de cunho artístico, que buscam estimular a sensibilidade dos jovens.

Em quarto, ressalto um diálogo estabelecido com as escolas de elite, mas não a um nível infraestrutural, e sim a nível humano. A condição de estudo de muitas instituições particulares é fora do comum (surreal para a realidade educacional brasileira), mostrando o papel que a iniciativa privada, segundo interesses próprios ou não, está desenvolvendo no setor. Isso nos faz refletir até que ponto o Estado pode se ausentar, ou até que ponto ele se ausentou, do compromisso com a educação. Entretanto, os problemas herdados da relação familiar, que se traduzem em angústia, pressão escolar excessiva, medo de reprovação, denunciam sob certa perspectiva o abandono emocional que muitos estudantes sofrem, destacando, assim, a questão da família. Onde ela está e que apoio concede ao estudante? A liberdade de escolha profissional é respeitada por ela? Qual é a carga que o estudante traz de casa para a escola?

Em quinto lugar, acreditamos importante notar o funcionamento do conselho de classe. Nele o desempenho do estudante é traçado em linhas gerais. Admiti-se ou não que o aluno passe de ano letivo, pela melhora de seu desempenho ou pela não piora do mesmo. Um relato curioso de um aluno que passou sem aprender nada (“eu já sabia que iam me passar”) denuncia um furo em tal procedimento: a própria equipe é pressionada para eliminar o excedente do alunado e, por um consenso, o aluno se forma no ensino médio, sem perspectiva alguma, esquecendo que a vida acadêmica só está começando (a probabilidade de fazer um vestibular), procurando o mercado de trabalho, muitas vezes informal, e vivendo para fora de si, tornando-se um estranho para si, perdendo seu caráter crítico, ou seja, alienando-se. A violência, também, foi banalizada. E alguns relatos ressaltam tal perspectiva: alunos que não possuem simpatia pelos outros, fazem ameaças, de morte inclusive, e, num dos casos, a promessa é cumprida.

De uma maneira geral, consideramos os pontos enumerados como importantes questões alarmadas no documentário, pois estas nos forçam a pensar a educação, ao ultrapassar a própria ideia de um problema pertencente a uma instituição fechada, uma vez que diz respeito ao ser humano enquanto tal: o direito de estudar, de ter uma formação e de ser cidadão, características que são fundamentais em qualquer sociedade que preze a cultura e a memória, pois estas são a base da identidade de um povo. “Na maioria das vezes, nós nem temos chances de sonhar”, segundo o depoimento de um aluno. Reformar (ou revolucionar) a escola significaria criar essas chances? Achamos que sim, pois somente desse modo poderemos afirmar que, uma vez que a totalidade do ser social está em crise, a escola é a busca do diferente, da abertura, do diálogo, do novo, da criatividade e não somente uma questão estatística, que reduziria tudo a alguns problemas e, no pior dos casos, mascarando a verdadeira realidade.

*2*

Os temas que julgamos necessitar de maiores investimentos pelo setor público são os que dizem respeito à infraestrutura das escolas, uma vez que elas pecam em condições que favoreçam o estudo ou que animem a equipe pedagógica de alguma forma. Condições básicas, como banheiro, água e ventiladores são mais que necessários para uma escola que vise um desenvolvimento de qualidade. Para tanto, o setor público deveria rever o orçamento destinado às escolas, de modo que o dinheiro fornecido cubra as reais necessidades da instituição.

Outro que acreditamos ser de suma importância é o investimento no professor. Não somente numa perspectiva salarial, mas num aperfeiçoamento acadêmico, visando uma atualização do mesmo ante os centros de pesquisa brasileiros e/ou internacionais, coisa esta que é típica de universidades, mas que faria diferença se fosse aplicada no ensino básico. Com um salário de miséria, o a maioria dos professores se desanima ou não se dedica na docência, tornando-se uma massa de insatisfeitos com o Estado e deixando, mesmo que as condições de trabalho e de vida estejam difíceis, que a escola assim continue.

Os investimentos necessários, por sua vez, acarretariam outra necessidade: a fiscalização; para que tenhamos certeza de que os recursos estão sendo aplicados em benefícios para as escolas e não, como frequentemente se vê na política de uma forma alarmante, desviados para paraísos fiscais, em prol de interesses pessoais, que só retardam o crescimento de qualquer setor de nossa sociedade.

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