VELHA HISTÓRIA
Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um peixinho. Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com pena.
E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou-o no bolso traseiro das calças, para que o peixinho sarasse no quente. E desde então ficaram inseparáveis.
Aonde o homem ia, o peixinho acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas calçadas. Pelos elevadores. Pelos cafés.
Como era tocante vê-los no "17"! - O homem, grave, de preto, com uma das mãos segurando a xícara fumegante de moca, com a outra lendo jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava uma laranjada com um canudinho especial...
Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho:
-Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te mais tempo ao carinho do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua família. E viva eu cá na terra sempre triste...
Dito isso, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho na água. E a água fez um redemoinho, que depois foi serenando, serenando...até que o peixinho morreu afogado.
(Mario Quintana, 1976, p. 105)
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