segunda-feira, 28 de abril de 2008

A importância da guerra das palavras

"O instrumento da política é a palavra". Essa afirmação sugere a íntima ligação entre a política e a própria essência humana, pois o homem é dotado de logos que, por definição difícil de se chegar, é a palavra, a razão, o discurso, ou seja, a capacidade de representação. A política, por sua vez, diz respeito a todos os procedimentos relativos à pólis (cidade-Estado, modelo de cidade na qual a vida pública era sinônimo de liberdade e realização) sendo que ambas são frutos da razão e surgiram quando o pensamento mítico deu lugar, em maior intensidade, para a filosofia (que representou uma nova forma de ver e indagar sobre o mundo) sem deixar de existir completamente no seio do pensamento grego.
A política clássica é explicada através de um teleologismo (finalismo). A natureza nada faz em vão: aos animais a natureza deu a phoné (voz), para comunicar, e para o homem deu o logos, para argumentar. Outro ponto importante a destacar é que, para os antigos, a comunidade (koinonia) política tem precedência sobre os indivíduos que a compõem, sendo também natural, pois em essência ela é primeira (ontologicamente falando), precedendo as partes naturais que a constituem (a família e a aldeia). A pólis é o todo cuja partes são naturais, está impregnada na natureza humana e é o fim (sendo o melhor) de toda a comunidade. A visão política antiga, que perdurou com muita força até Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes, foi fundada pelo filósofo grego Aristóteles (aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande) e ainda hoje se faz atual. O que foi colocado em questão foi a famosa frase de Aristóteles "o homem é uma animal político (zoon politikon)", que traduz seu pensamento político central.
A capacidade do homem de ser político o torna forte e fraco ao mesmo tempo, assim como dependente e vulnerável, porém a política possuí uma dignidade própria: o homem fabrica a sua "casa". Não uma casa física e sim uma maneira de se colocar no mundo. Através da ação (política) não buscamos em primeiro lugar a perfeição de um mundo exterior: nós buscamos a areté (a nossa porópria perfeição, virtude e excelência). A política cria o campo do sentido no homem, a própria razão de sua liberdade. Sobretudo, não devemos confundir com politicagem, visto os escândalos na "política" brasileira e mundial.
A idéia de que o homem possuí uma "vita contemplativa" e uma "vita activa" é uma noção grega. No campo da "vita activa" temos a ação, sem a qual o homem não se realiza plenamente. Na ação política e no campo político a palavra se torna laicizada, se torna pública. Para os romanos (um doa povos mais politizados que se tem notícia) "viver" era "inter homines esse (estar entre os homens)" e "morrer" era "inter homines esse desinere (deixar de estar entre os homens)". Isso porque os homens não são somente seres de natureza (seres de physis) e, portanto, não podem ser isolados.
A política, atualmente, foi banalizada (será que totalmente?), porém seus princípios herdados de Aristóteles são, ainda, alvo de discussão em mesas redondas e praças públicas, mesmo que nem sempre seus ideais correspondam as ações ditas boas pelo filósofo (salvo, é claro, aos seus ideais relativos à escravidão- algo inaceitável para o pensamento moderno).
Afinal, qual é o remédio para que a política atual vise (realmente!) o bem comum?
É esta a guerra na qual devemos emergir: a guerra das palavras.


"A boa política é a que mais se distancia da violência"
"A política é uma criação espontânea (há controvérsias!) e necessária"
"O homem não atinge sua felicidade sem estar no seio da comunidade"
"Sem a linguagem o homem não transmitiria suas idéias e não agiria politicamente"
"O objetivo da pólis é de cunho moral e ético"
"A felicidade é uma grande virtude, por isso a pólis deve ser virtuosa"
"A ética e a política não são para bestas nem para deuses"

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