O labor é a atividade que existe para produzir tudo que é vital ao homem, onde ele (aqui tratado como animal laborans) retira da natureza tudo que é necessário para a manutenção da vida, mostrando o caráter biológico dessa atividade ligada ao naturalismo radical do ser humano. Sem o labor não existe "vita contemplativa", trabalho e ação, pois, por mais que seja um ciclo repetitivo de "labuta, consumo e regeneração para novamente labutar", ele tem como condição humana a própria vida. Ele é um ciclo incessante: enquanto há vida, há labor. Ele "produz" bens necessários para o desenvolvimento biológico do homem (bens de consumo) e está vinculado à conservação da espécie e da vida enquanto tal, sendo que esta atividade é a que mais nos aproxima dos animais.
O trabalho é a atividade de transformação da natureza, onde o homem é tratado como homo faber (fabricador), e tem como virtude intelectual a "techné" (capacidade raciocinada de produzir, inteligência produtora, técnica). O trabalho produz um mundo artificial entre o homem e a natureza: os objetos de uso, a poiésis (obra) que continua na Terra, estabelecendo uma morada para o homem. O criador morre e a obra vive: os objetos do trabalho possuem durabilidade, objetividade, reversibilidade, além de permanência à futilidade humana. Essa reificação (transformação da matéria em material) tem como condição humana a mundanidade, pois estamos na Terra e nos instalamos na mesma.
A ação (no sentido de práxis- prática política) é a casa da política e atividade mais nobre que um homem pode exercer. O animal socialis, através da "phronésis" (que é a capacidade de julgar numa dada situação, além de ser uma virtude centrada no conceito de bem), age tendo como fim a própria ação. O animal socialis (o zoon politikon de Aristóteles) visa o bem da comunidade, busca o exercício das virtudes, seu próprio aperfeiçoamento e, consequentemente, a felicidade. A ação é a única que se realiza entre os homens sem a necessidade da matéria, possuindo um veículo que é fruto do logos (razão): a palavra. A condição humana para a ação é a pluralidade: não podemos ser um, temos que ser muitos, o homem não foi feito para o isolamento e não existe uma ação isolada. A ação tem um começo determinado, mas nunca possuí um fim previsível e é irreversível. Imprevisibilidade e irreversibilidade: características estas que o homem tenta superar, ou pelo menos amenizar, através do contrato e do perdão, respectivamente.
A relação entre "theoría" (vita contemplativa) e "práxis" (ação) é mais íntima do que imaginamos. "O homo faber é o único que é senhor tanto da natureza quanto de si mesmo". Essa passagem evidencia uma crítica da filósofa alemã Hannah Arendt ao tecno-cientificismo e sua sociedade, na qual há um esvaziamento da política e desvalorização da ação. Num mundo onde labor e trabalho se confundem (fazendo com que a lógica capitalista e seus "objetos de consumo" se tornem poderosíssimos) o maior sonho do homem é construir uma techné da práxis, uma ciência política e assim poder prever suas ações e, caso erre (as chances diminuem), poder revertê-las. No mínimo podemos dizer que nossa espécie é um tanto ambiciosa e que talvez esse seja o grande motivo por de trás do imaginário da construção de uma "máquina do tempo", sonho que talvez não seja possível (será?), mas que habita a mente de muitas pessoas.
"O homem não pode voltar atrás com suas ações"
"Logos e ação (theoría e práxis): eis o homem que age com sabedoria"
"Não haveria labor sem vida"
"Não haveria trabalho sem mundo"
"Não haveria ação sem pluralidade"
Poderia o homem, fugindo da Terra, mudar a condição humana?
2 comentários:
Parabéns Marcelo, estou fazendo um trabalho para para a faculdade e sua reflexão foi muito util.
s"não haveria labor sem vida"então vamos agradecer pela labuta da vida."não haveria trabalho sem mundo"então vamos agradecer por estar neste mundo e trabalhando."não haveria ação sem pluralidade"então vamos esforçar nos para que todas as nossas ações tenham um só pensamento o bem estar de todos.
Postar um comentário