Jean Copans e a antropologia
Segundo J. Copans, a antropologia possui fortes raízes na expansão marítima europeia ou, antes, nas viagens onde os contatos com sociedades não-europeias se mostravam como capitais. O motor do movimento antropológico advém de um contato com o outro, embora a antropologia só tenha conquistado seu lugar como ciência autônoma em meados do século XIX. Entretanto, a dinâmica de levantamento de dados, descrições de realidades e sistematização dos mesmos mostrava-se como uma postura dos estudiosos das outras culturas, que representavam uma novidade para o povo europeu.
Na origem da antropologia mostra-se importante destacar a etnografia e a etnologia. A etnografia consistia na coleta de dados, ou seja, em anotações acerca dos hábitos, ritos e simbolismos de uma dada sociedade – anotações etnográficas que a etnologia aprofundaria em suas comparações dos dados dessa mesma sociedade (de início, predominantemente, tribais). A investigação antropológica consistiria num eixo de comparações desses dados aprofundados, só que entre diversas sociedades. Por exemplo, a antropologia destacaria a presença de ritos de passagem em meio aos simbolismos de cada sociedade.
É de extrema importância, aqui, a observação participante método introduzido por Malinowski de forma pioneira e reconhecido por J. Copans. Consistia, pois, numa vivência na sociedade mesma, isto é, a partir de seu interior. A antropologia inova quando pretende estudar uma sociedade a partir de sua dinâmica social, numa tentativa de apreender seu simbolismo total, se desvinculando – ou, ao menos, tentando se desvincular – da contaminação advinda de um olhar exterior. O método, apesar de ousado e coerente, levanta uma série de problemáticas, uma vez que o olhar do estudioso nunca deixa de ser o olhar utilitário de um estudioso.
Daí surge questões relacionadas às responsabilidades sociais e políticas da antropologia, pois, uma vez que esta ocupa o lugar da ciência que trabalha formas de produção de significado humano, o que se diz a partir de seus estudos influencia a postura da sociedade diante do outro. Caberia ressaltar se há espaço para uma neutralidade ou não. Entretanto, constato-se na história que tal ciência serviu de alicerce para justificativas de exploração e dominação, tanto políticas quanto econômicas.
Obra: "Antropologia: ciência das sociedades primitivas?"
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